A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades politicas.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, onde proliferam centenas de associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais e sociedades de beneficência e religiosas, destacam-se percursos de vida de vários compatriotas que alcançaram o sonho americano (“the American dream”).
Entre as várias trajetórias de portugueses e lusodescendentes que se distinguem pelo papel empreendedor e inovador no contexto da sociedade norte-americana, e que constituem simultaneamente um ativo estratégico na promoção internacional e de investimento económico em Portugal, destaca-se o percurso inspirador de Stephen Maciel.
Nascido na Califórnia, para onde haviam emigrado os pais, naturais da ilha do Pico, a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores, no início dos anos 70, o lusodescendente regressou à terra natal dos progenitores aos cinco anos e ali se manteve até aos 25, período em que regressou à América para se aventurar no mercado do trabalho.
O esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, levaram o lusodescendente de origem açoriana, que chegou a trabalhar no estado no oeste dos EUA, numa peixaria e a ser condutor de autocarros escolares, a apostar numa formação superior que lhe abriu portas para se tornar proprietário de um notário, fazendo a ligação entre as instituições bancárias e os clientes na compra e venda de propriedades.
Uma das marcas mais vincadas do percurso socioprofissional do cofundador da Pico Investments LLC, sediada em Hollister, cidade localizada no estado da Califórnia, no condado de San Benito, é indubitavelmente o seu reiterado orgulho nas raízes portuguesas, em particular, açorianas.
De facto, o orgulho nas raízes açorianas impeliu nos últimos anos o lusodescendente a investir um milhão de euros num estabelecimento de restauração na ilha do Pico, aproveitando o restaurante então aberto pelos pais quando há cerca de 50 anos regressaram à terra natal. A construção recente, inspirada no ambiente e na natureza do local, junto ao mar, como é o caso da antiga atividade baleeira que mobilizou no passado, nas Lajes do Pico, grande parte da população, evidenciam o Tacão – Restaurante & Bar como um exemplo paradigmático das potencialidades dos emigrantes ou descendentes de emigrantes açorianos, que através de uma forte ligação ao território investem no desenvolvimento arquipelágico.
Numa época em que os decisores políticos e os agentes económicos nacionais têm um cada vez maior impulso para a aceleração do investimento da diáspora no país e da internacionalização através da diáspora, o apego às raízes de Stephen Maciel e o seu espírito arrojado luso-americano, robustecem o incomensurável potencial dos empreendedores da diáspora portuguesa.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor