Investigação mostra haver uma conexão entre duas grandes condições de saúde: a esclerose múltipla (EM), que é uma doença que corrói o sistema nervoso central e que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e a depressão, um distúrbio de humor com sintomas debilitantes, e que afeta centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
Pacientes com EM têm quase três vezes mais risco de depressão do que a população em geral. Mas exatamente como e o que leva a que a EM e a depressão estejam relacionadas não era claro. Agora, um novo estudo realizado por investigadores do Brigham and Women’s Hospital, veio dar um melhor conhecimento sobre essa conexão.
A equipa de investigadores, utilizando um circuito de depressão no cérebro, permitiu localizar a depressão da esclerose múltipla, comparando os locais de lesão no cérebro de pacientes com esclerose múltipla aos locais de lesão neste circuito que tinha sido descrito anteriormente e assim, encontrou novas conexões e potenciais alvos terapêuticos.
“Quando um paciente tem lesões por todo o cérebro, costumávamos presumir que não estavam relacionadas à depressão, porque pareciam muito desconectadas. Mas com o mapeamento da rede de lesões, podemos ver que mesmo quando as lesões não se sobrepõem diretamente umas às outras, elas podem sobrepor-se com o mesmo circuito”, referiu Shan Siddiqi, investigador de neuromodulação psiquiátrica no Brigham and Women’s Center for Brain Circuit Therapeutics.
Embora muitos médicos tenham assumido que certas lesões eram mais propensas a causar depressão na EM, isso nunca tinha sido comprovado e não se tinha conhecimento de haver um padrão específico que conectava essas lesões.
De acordo com os estudo, já publicado na Nature Mental Health, o mapeamento da rede de lesões é fundamental para ver esse padrão de depressão, pois o mapeamento permite que os investigadores visualizem redes de conectividade em vez de apenas locais solitários de dano.
Num estudo de 2021, a mesma equipa de investigação tinha identificado um circuito cerebral comum – que conectava locais de lesão cerebral aparentemente díspares – em pacientes que sofreram depressão após derrame ou traumatismo craniano penetrante. A equipa investigou se as lesões de esclerose múltipla e a depressão poderiam ser conectadas por meio desse novo circuito.
Para conduzir o estudo os investigadores contaram com um banco de dados de 281 pacientes com EM. Charles Guttmann e a sua equipa, no Brigham Center for Neurological Imaging, desenvolveram um ambiente de laboratório virtual que permite a recolha e análise sistemática de ressonância magnética e de dados clínicos, bem como um protocolo automatizado de deteção e delineamento de lesões, para localizar lesões com relativa facilidade.
Embora oferecesse informações importantes sobre a depressão da esclerose múltipla, o estudo teve algumas limitações importantes. Todo o histórico do paciente era desconhecido, ou seja, além de outros históricos potencialmente desconhecidos, alguns pacientes podem ter tido depressão antes da EM. Além disso, o tamanho da amostra – embora o maior até agora de seu tipo – era limitado. O próximo passo são os ensaios clínicos, já que esta nova localização da depressão da EM permite uma série de possibilidades de direcionamento terapêutico.
“Quanto mais sabemos sobre a conectividade das lesões que causam sintomas, melhor a nossa capacidade de direcionar um local de estimulação ideal para esses sintomas”, disse Siddiqi. “Já mostramos o sucesso de direcionar o nosso circuito de depressão a priori em outros pacientes. Agora que mostramos que o circuito pode ser aplicado à depressão por esclerose múltipla, devemos ser capazes de encontrar um alvo de tratamento para esses pacientes também”.