A emigração, parte integrante da história e cultura nacional, tem sido ao longo dos anos uma profícua fonte de inspiração para inúmeros cantores, letristas, compositores e artistas, que nos mais diversos estilos musicais têm evocado as agruras da partida e da saudade de quem demanda no estrangeiro melhores condições de vida.
Os mais antigos recordar-se-ão seguramente da voz suave e triste de Adriano Correia de Oliveira que interpretou o “Cantar de Emigração”, com letra de Rosalia de Castro e música de José Niza. Uma das mais emblemáticas trovas do cantor de intervenção, o “Cantar de Emigração” constitui um retrato fidedigno da emigração portuguesa “a salto” para França nos anos 60, um período marcado pela saída massiva de jovens, impelidos pela miséria rural, a ausência de liberdade e a fuga ao cumprimento do serviço militar, antecâmara da incorporação na Guerra Colonial.
Esta experiência marcante de fuga à pobreza de centenas de milhares de portugueses, que na sua maioria encontraram nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris, cidade que muitos conheceram como expressa António Barreto “antes de ir a Lisboa ou de ver o mar”, seria celebrizada nos anos 80 com o tema “Um Português (Mala de Cartão) ” de Linda de Suza, uma das mais afamadas cantoras lusas, emigrante em França. Falecida no ocaso do ano transato, Linda de Suza, como evocou então o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a artista “fica na nossa memória como exemplo de determinação e de fidelidade. Foi um ícone francês da imigração portuguesa e, portanto, um ícone de Portugal”.
Ainda em terras gaulesas, os anos 90 assistiram ao sucesso entre a comunidade portuguesa de Graciano Saga, um cantor popular que ficou conhecido com músicas sobre a Diáspora, de que se destaca o tema “Vem devagar emigrante” e “Amiga Emigrante”.
A influência do fenómeno da emigração na expressão musical portuguesa não se cinge ao passado mais recente ou às canções de intervenção e música popular. A multiplicidade de projetos musicais onde está retratada na atualidade a temática da emigração vai desde o Fado e a Pop, singularmente representada em 2013 no dueto de Pedro Abrunhosa com o fadista Camané, que no tema “Para os braços da minha mãe” abordam a nova vaga de emigração; até ao Rap, discurso rítmico com rimas e poesias que o rapper brigantino Jorge Rodrigues e a cantora Vanessa Martins usaram em 2016 na música “Filha de emigrantes”, uma composição que retrata a vida hodierna dos emigrantes e a saudade que sentem da família e do país de origem.
Como realçava Khalil Gibran, um dos mais célebres autores mundiais, na esteira da influência do fenómeno da emigração na música portuguesa, a “música é a linguagem dos espíritos”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor