Os cirurgiões cardiovasculares conhecem muito bem o perigo que surge quando um paciente sofre uma rutura na artéria principal do coração, a chamada dissecção aórtica. A condição, no entanto, é muitas vezes confundida pelos pacientes, e até mesmo por alguns médicos e enfermeiros, como um ataque cardíaco. Esta confusão pode atrasar o diagnóstico e a subsequente cirurgia que salva vidas.
Para auxiliar a população a identificar os sintomas, especialistas do Smidt Heart Institute do Cedars-Sinai Medical Center, EUA, levam a cabo uma iniciativa de Conscientização da Dissecção da Aorta. O objetivo é ensinar as pessoas a conhecer os sinais indicadores, os fatores de risco e as opções de tratamento disponíveis para dissecções de aorta.
“As dissecções da aorta são muitas vezes chamadas por “o grande mascarado” porque os sintomas podem ser confundidos com outras condições, como ataque cardíaco ou derrame”, esclareceu Ali Azizzadeh, diretor da Divisão de Cirurgia Vascular do Smidt Heart Institute.
O especialista indicou: “Se sentir dor intensa no peito ou nas costas, é imperativo que vá ao Serviço de Urgência para que seja feita uma observação completa que rastreie se é uma dissecção da aorta.”
A aorta, que tem origem no ventrículo esquerdo do coração – a principal câmara que bombeia o sangue do coração – é preenchida com sangue rico em oxigénio que viaja por todo o corpo. Quando ocorre uma rutura, o sangue derrama através da rutura da camada interna e nas camadas médias da aorta, provocando a separação ou dissecção. Quando isso acontece, os órgãos do corpo podem ser privados do sangue.
“A taxa de mortalidade para uma dissecção da aorta é de cerca de 1% por hora nas primeiras 48 horas, fazendo valer cada segundo”, referiu Ali Azizzadeh. “Igualmente importante é procurar atendimento, sempre que possível, numa unidade hospitalar com serviços especializados e que abrangem o tratamento de dissecções de aorta.”
“Melhor do que tratar uma dissecção da aorta, no entanto, é preveni-la”, disse Michael Bowdish, vice-presidente do Departamento de Cirurgia Cardíaca do Smidt Heart Institute. “Usando técnicas avançadas de imagem, podemos prever quais os pacientes que estão em maior risco de desenvolver uma dissecção da aorta – depois monitorá-los e tratá-los adequadamente”, esclareceu o especialista.
“A maneira como hoje tratamos cirurgicamente as dissecções de aorta é muito diferente de como as tratávamos há 10 anos, ou mesmo há cinco anos”, disse Michael Bowdish. “Agora temos abordagens minimamente invasivas – tanto para procedimentos endovasculares quanto de coração aberto – que podem levar os pacientes de volta para casa em poucos dias.”
Uma dessas opções é o uso de endopróteses endovasculares minimamente invasivas. “O reparo endovascular da aorta torácica, conhecido como TEVAR, é um exemplo de procedimento minimamente invasivo em que os cirurgiões podem realinhar a rutura relacionada à dissecção da aorta usando uma pequena punção na virilha”, referiu Ali Azizzadeh.
Os especialistas Azizzadeh e Bowdish dizem que a melhor defesa de uma pessoa contra a doença é conhecer os fatores de risco, que incluem o histórico pessoal ou familiar de doença torácica, doença da válvula aórtica bicúspide e certas síndromes genéticas, incluindo síndrome de Marfan, síndrome de Loeys-Dietz, Ehlers-Danlos vascular e síndrome de Turner.
Fatores de risco do estilo de vida também podem causar uma dissecção da aorta. Estes incluem esforço extremo associado à musculação, abuso de drogas ilícitas, pressão alta mal controlada e, em casos raros, gravidez, especialmente em mulheres com aneurismas da aorta e distúrbios do tecido conjuntivo.
Mas como referiu Ali Azizzadeh, o melhor conselho é que, se sentir dor intensa no peito, nas costas ou no abdómen, deve dirigir-se ao serviço de urgências e alertar os médicos para a necessidade de exames sobre possível dissecção da aorta.