Sonolência, problemas em dormir, fadiga, stress, burnout e outras doenças crónicas estão a afetar os técnicos de manutenção de aeronaves (TMA), principalmente os que trabalham por turnos. As conclusões são do estudo “Saúde e Sono dos Técnicos Portugueses de Manutenção de Aeronaves”, realizado pelo Centro de Medicina do Sono (CENC) em parceria com o SITEMA – Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves.
O estudo que envolveu 348 técnicos de manutenção de aeronaves, com 85% a trabalhar por turnos, foi coordenado por Teresa Paiva, neurologista e especialista do sono, e Cátia Reis como investigadora principal. Uma das conclusões do estudo aponta que 60% sofre de sonolência diurna e que 70,3% também sofre de sonolência durante o horário de trabalho.
Outra das conclusões do estudo mostra que 60,9% dos técnicos reconheceu ter dificuldades em adormecer, enquanto 61,1% reportou dificuldades em acordar e 75,9% também apresentou fadiga ao acordar. Do total de inquiridos, 77,9% revelou não dormir o suficiente.
Em relação aos hábitos verificou-se que 45,7% dos técnicos não é fumador, mas entre os que fumavam a média de consumo foi de 10,8 cigarros por dia. Sobre o consumo de bebidas alcoólicas verificou-se que 60,1% indicaram que o consumo ocorria mais em ocasiões especiais e 86,5% indicou que consumia café (uma média de três cafés por dia). Dos inquiridos, apenas 1,4% indicou que tomava medicação para dormir.
O estudo mostra que 14,1% dos técnicos já teve acidentes ao voltar para casa no final de um turno, e 9,5% reportou que os acidentes ocorreram após o turno da noite.
Dos técnicos envolvidos no estudo, 61% reportou sofrer de doenças crónicas, sendo a patologia músculo-esquelética a mais reportada com 48,6%, seguida por doenças respiratórias com 14,2% e por doenças neurológicas com 11,5%. A doença cardiovascular surge em quinto lugar com 6,5%, a seguir às doenças dermatológicas com 7.7%.
Os especialistas envolvidos referem no estudo que “os resultados obtidos refletem o panorama de sono, e outputs de saúde dos técnicos de manutenção de aeronaves, apresentando os trabalhadores por turnos, no geral, um pior outcome de saúde”.
O estudo compara os resultados entre técnicos que trabalham por turnos e os que trabalham com turnos regulares, e conclui que o tempo de sono dos trabalhadores que têm turnos regulares foi maior de 6h24 do que os que trabalham por turnos, sendo a diferença maior quando falamos nos dias de trabalho no turno da noite de 5h20.
O turno da noite é o que apresenta maior disrupção circadiana, com valores de jetlag social médios superiores a sete horas. O estudo também concluiu que os trabalhadores por turnos registam valores de score acima dos 25% – valor normativo – no inventário de burnout, com a exaustão a registar 32,4% de prevalência nestes TMA, seguindo-se o burnout com 30,4% e o distanciamento com 29,4%.
O estudo refere como conclusão que “separando para os dois grupos de trabalhadores (regular vs. turnos), verificamos a existência de trabalhadores em risco (acima do quartil superior) apenas no grupo de trabalhadores por turnos. Este resultado sugere que o risco para burnout é efetivamente superior para trabalhadores por turnos”.
Para é indicado no estudo que foram demonstrados “indicadores de pior saúde para trabalhadores de manutenção de aeronaves, nomeadamente para os trabalhadores que efetuam trabalho por turnos”, nomeadamente pior qualidade de sono, níveis superiores de fadiga, maior disrupção circadiana e menor tempo total de sono, nomeadamente no turno da noite.
Sobre a gestão do trabalho, o estudo indica que 53,7% considera ter pouco apoio social no trabalho, no sentido em que se encontram a fazer as tarefas diárias sozinhos, normalmente sem apoio de colegas ou chefias.
“As conclusões a que chegámos são preocupantes para a saúde dos técnicos de manutenção de aeronaves, tendo em conta as prevalências elevadas de sonolência, problemas de sono, fadiga, stress e brunout e de outras doenças crónicas” referiu Cátia Reis, cronobióloga e investigadora principal responsável pelo estudo.
A investigadora acrescentou: “O trabalho por turnos é particularmente negativo para esta classe profissional. Seria importante implementar medidas simples de mitigação da fadiga, nomeadamente formação em medidas de gestão do sono e contra a fadiga, bem como a alteração de escalas do método backward para forward, diminuindo os níveis de disrupção circadiana e melhorando a adaptação ao trabalho por turnos”.
Para Paulo Manso, presidente da direção do SITEMA, “o desgaste fruto de uma profissão por turnos é natural, mas este estudo revela que há um elevado risco de burnout nos TMA, fruto de um descanso de fraca qualidade. Além disso, a maioria sente que faz o seu trabalho sozinho, sem apoio de colegas ou chefias, o que demonstra que há cada vez mais falta de pessoal. Este estudo vai ajudar-nos a apoiar de forma mais próxima os nossos técnicos, que precisam de sentir que o trabalho deles é valorizado, bem como a sua qualidade de vida”.