Os Prémios Pfizer, que já vão na 60ª edição, o que os torna nos mais antigos galardões na área da Investigação Biomédica atribuídos em Portugal, distinguem em 2016 os cientistas Henrique Veiga Fernandes do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa (IMM) e Pedro Pimentel-Nunes do Instituto de Oncologia do Porto (IPO do Porto).
Os dois cientistas são autores de dois projetos de investigação, um de investigação básica sobre saúde intestinal e o outro de investigação clínica em cancro gástrico. Trabalhos que foram selecionados pelo júri do Prémio Pfizer entre 56 trabalhos concorrentes.
O estudo de Henrique Veiga Fernandes do IMM com o título ‘O Sistema nervoso como guardião da imunidade intestinal’ permitiu identificar a expressão de uma nova molécula, RET, que é expressa pelos linfócitos inatos intestinais. Esta molécula é essencial para a proteção das mucosas e regulação da inflamação intestinal.
A molécula RET funciona como um ‘interruptor’ que quando ligado protege o intestino de agressões inflamatórias. De forma surpreendente, as células da neuróglia, anexas aos linfócitos inatos, ligam o ‘interruptor’ RET após detetarem sinais produzidos por microrganismos ou células em apuros.
As células da neuróglia recebem sinais do intestino e dão instruções ao sistema imunitário para reparar os danos, abrindo portas para a possível exploração terapêutica deste sistema.
O investigador esclarece que “o trabalho revela ainda uma troca multicelular formada pela neuróglia, linfócitos inatos e epitélio, que controla a defesa intestinal”, indicando por fim que “as células da neuróglia são peças centrais do funcionamento intestinal ao controlarem simultaneamente a função nervosa e imunitária”.
Em investigação clínica, o trabalho de Pedro Pimentel-Nunes do IPO do Porto, com o título ‘Estudo prospetivo multicêntrico da utilização em tempo real da cromoscopia por NBI no diagnóstico de condições e lesões gástricas pré-malignas’ consistiu num estudo prospetivo multicêntrico, envolvendo 5 centros de gastroenterologia mundiais, em Portugal, Itália, Roménia, Reino Unido e Estados Unidos, 238 doentes e 1123 biopsias endoscópicas.
O estudo permitiu avaliar a acuidade diagnóstica em tempo real da endoscopia alta com Narrow-band Imaging (NBI). A endoscopia sem NBI apresentou uma acuidade diagnóstica de 83% e a utilização de NBI aumentou essa acuidade em 11% para 94% (p<0.01).
Verificou-se que a principal vantagem do NBI foi na sensibilidade para identificação de tumores precoces (NBI 92% vs 74%) e na identificação de metaplasia (NBI 87% vs 53%, p<0.001), sendo que uma escala endoscópica com NBI permitiria o diagnóstico de condições pré-malignas com 98% de certeza.
Para o investigador os “resultados mostram pela primeira vez, num cenário clínico em tempo real, que a endoscopia com NBI tem uma grande correlação com a histologia no diagnóstico de lesões pré-malignas gástricas. A sua utilização por rotina pode aumentar a deteção precoce de cancro gástrico com diminuição da sua mortalidade”.
Na cerimónia da entrega dos prémios, que decorreu na Antiga Biblioteca do Convento do Beato, em Lisboa, esteve presente Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, e Adalberto Campos Fernandes, Ministro da Saúde. Para assinalar os 60 anos dos prémios Pfizer o Professor Jorge Calado deu uma conferência sobre o tema “Pensar a Ciência”.
60 anos de Prémios Pfizer
Os prémios foram criados em 1955, e ao longo dos últimos 60 anos têm vindo a distinguir os melhores trabalhos de investigação básica e clínica, elaborados, total ou parcialmente, em instituições portuguesas por investigadores portugueses ou estrangeiros, e conferindo anualmente um valor monetário de 20.000 euros para cada um dos projetos vencedores em cada área.
Na edição deste ano foram apresentados 56 trabalhos para avaliação do júri, correspondendo 36 candidaturas à área da Investigação Básica e 20 à área da Investigação Clínica. Ao longo destes anos, os Prémios Pfizer de Investigação foram atribuídos a cerca de 700 investigadores, tendo sido premiados 225 trabalhos.
Desde o início, os Prémios Pfizer têm marcado de uma forma positiva a investigação que se faz em Portugal e afirmam-se como um incentivo aos jovens investigadores, abrindo a porta para uma carreira científica. No passado, já receberam esta distinção reputados cientistas portugueses como João Lobo Antunes (1960 e 1969), António Damásio (1974), Alexandre Castro Caldas (1974, 1976 e 1999), Maria do Carmo Fonseca (1981,1987, 1989, 1995, 2002, 2011) Miguel Castelo Branco (2005 e 2006), Mónica Bettencourt Dias (2007 e 2012), Miguel Soares (2009, 2015), Bruno da Silva Santos (2009), Moisés Mallo (2004, 2005 e 2010), entre tantos outros.
Os Prémios de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre os Laboratórios Pfizer e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da Saúde em Portugal.