Os alimentos da pesca e da aquicultura contribuem cada vez mais para a segurança alimentar e nutricional no século XXI, indicam os dados do relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) disponibilizado hoje, 30 de junho.
A edição de 2022 do The State of World Fisheries and Aquaculture (SOFIA) indica que o crescimento da aquicultura, particularmente na Ásia, elevou a produção total de pescado, em 2020, a um recorde histórico de 214 milhões de toneladas, sendo 178 milhões de toneladas de pescado e 36 milhões de toneladas de algas.
A produção de pescado em 2020 foi 30% superior à média da década de 2000 e mais de 60% acima da média da década de 1990. A produção recorde de aquicultura de 87,5 milhões de toneladas de peixe impulsionou em grande parte os dados.
À medida que o setor continua a expandir-se, a FAO refere que são necessárias mudanças transformadoras mais direcionadas para alcançar um setor de pesca e de aquicultura mais sustentável, inclusivo e equitativo. Uma “Transformação Azul” na forma como produzimos, gerimos, comercializamos e consumimos alimentos de pesca é crucial se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“O crescimento da pesca e da aquicultura é vital nos nossos esforços para acabar com a fome e a desnutrição global, mas é necessária uma maior transformação no setor para enfrentar os desafios”, referiu o diretor-geral da FAO, QU Dongyu. ”Devemos transformar os sistemas agroalimentares para garantir que os alimentos da pesca e da aquicultura sejam colhidos de forma sustentável, os meios de subsistência sejam salvaguardados e os habitats aquáticos e a biodiversidade sejam protegidos.”
Os alimentos aquáticos estão a contribuir mais do que nunca para a segurança alimentar e nutricional. O consumo global de alimentos aquáticos (excluindo algas) aumentou a uma taxa média anual de 3,0% desde 1961, quase o dobro do crescimento anual da população mundial – chegando a 20,2 kg per capita, mais que o dobro do consumo na década de 1960, referiu a FAO.
Mais de 157 milhões de toneladas, ou seja, 89% da produção de produtos de pesca e aquicultura, foram usadas para consumo humano direto em 2020, um volume ligeiramente superior ao de 2018, apesar do impacto da pandemia de COVID-19. Os alimentos aquáticos contribuem com cerca de 17% das proteínas animais consumidas em 2019, chegando a 23% em países de renda média baixa e mais de 50% em partes da Ásia e África.
Os países asiáticos foram a fonte de 70% da produção mundial de pesca e aquicultura de animais aquáticos em 2020, seguidos por países das Américas, Europa, África e Oceânia. A China continuou a ser o maior produtor de pescado, seguida pela Indonésia, Peru, Federação Russa, Estados Unidos, Índia e Vietname.
A aquicultura
A aquicultura cresceu mais rapidamente do que a pesca de captura nos últimos dois anos e espera-se que se expanda ainda mais na próxima década. Em 2020, a produção de aquicultura atingiu 87,5 milhões de toneladas, 6% superior a 2018. Por outro lado, a produção de pesca de captura caiu para 90,3 milhões de toneladas, uma queda de 4,0% em relação à média dos três anos anteriores.
A FAO indica que a redução na produção pesqueira de captura foi impulsionada principalmente pela pandemia de COVID-19, que interrompeu severamente as atividades de pesca, o acesso ao mercado e as vendas, bem como uma redução nas capturas da China e uma queda nas capturas de anchova.
A crescente procura por pescado está a mudar rapidamente o setor das pescas e da aquicultura. A FAO indica que o consumo deve aumentar 15% para fornecer em média 21,4 kg per pessoa, em 2030. Este consumo deve ser principalmente impulsionado pelo aumento dos rendimentos, mudanças nas práticas e distribuição dos produtos, bem como nas tendências alimentares com foco numa melhor saúde e nutrição.
A produção total de peixe e de outros produtos aquáticos deverá atingir 202 milhões de toneladas em 2030, principalmente devido ao crescimento contínuo da aquicultura, projetada para atingir 100 milhões de toneladas pela primeira vez em 2027 e 106 milhões de toneladas em 2030.
Transformação azul
Para a FAO é necessário fazer mais para alimentar a crescente população mundial, ao mesmo tempo que deve ser melhorada a sustentabilidade dos stocks e dos ecossistemas frágeis e protege vidas e meios de subsistência a longo prazo.
De acordo com o relatório SOFIA 2022, a sustentabilidade dos recursos pesqueiros marinhos continua a ser uma preocupação significativa, com a percentagem de stocks de pescados de forma sustentável caindo para 64,6% em 2019, um declínio de 1,2% em relação a 2017.
No entanto, a FAO refere que há sinais encorajadores, pois os stocks de pesca sustentável forneceram 82,5% do volume total dos desembarques de 2019, um aumento de 3,8% desde 2017. Isso parece indicar que os stocks maiores estão a ser geridos de forma mais eficaz.
A FAO promove a Transformação Azul, uma estratégia visionária para enfrentar os duplos desafios de segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, para garantir resultados equitativos e igualdade de género. Políticas e práticas favoráveis ao clima e ao meio ambiente, bem como a inovação tecnológica, também são vitais para a mudança.
”A Transformação Azul é um processo orientado por objetivos através do qual os membros e parceiros da FAO podem maximizar a contribuição dos sistemas alimentares aquáticos para melhorar a segurança alimentar, nutrição e dietas saudáveis a preços acessíveis, mantendo-se dentro dos limites ecológicos”, referiu Manuel Barange, diretor da Divisão de Pesca e Aquicultura da FAO.
A pesca e a aquicultura contribuem para o emprego, o comércio e o desenvolvimento económico. O valor total da primeira venda da produção de pesca e aquicultura em 2020 foi estimado em 406 mil milhões de dólares, em que 265 mil milhões vieram da produção de aquicultura.
A FAO indica que de acordo com os dados mais recentes é estimado que 58,5 milhões de pessoas estejam empregadas no setor e destas, aproximadamente 21% eram mulheres. Estima-se que cerca de 600 milhões de pessoas dependam da pesca e da aquicultura de alguma forma para suas vidas e meios de subsistência. Construir resiliência é fundamental para o desenvolvimento equitativo e sustentável.