A doença de Leigh (ou síndrome de Leigh) é uma doença neurodegenerativa progressiva. Esta doença rara neurometabólica congénita faz parte do grupo das encefalopatias mitocondriais. A doença ocorre normalmente nos primeiros dois anos de vida, embora possa ocorrer mais tarde. Os doentes apresentam lesões bilaterais focais em uma ou mais áreas do sistema nervoso central, incluindo tronco cerebral, tálamo, gânglios da base, cerebelo e medula espinhal.
Os doentes apresentam um quadro clínico que se pode manifestar em crianças com menos de um ano de idade, como perda do controlo da cabeça, hipotonia, anorexia, vómitos, irritabilidade e convulsões, e depois de um ano de vida ocorre dificuldade na marcha, ataxia, disartria, regressão intelectual, distúrbios da respiração, alterações oftalmológicas como: oftalmoplegia, nistagmo, atrofia ótica e estrabismo, entre outras manifestações.
Uma equipa multidisciplinar de cientistas e médicos conduziu, ao longo de quatro anos, um estudo sobre a doença de Leigh em dois doentes no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A equipa, coordenada por Manuela Grazina, docente da Faculdade de Medicina da Universidade Coimbra e responsável pelo Laboratório de Bioquímica Genética do Centro de Neurociências e Biologia Celular, identificou duas mutações associadas à origem da doença de Leigh. Uma das mutações foi identificada e descrita pela primeira vez no estudo já publicado na revista científica ‘Mitochondrion’.
Os investigadores identificaram “um défice enzimático da COX (Citocromo Oxidase) e alterações genéticas do gene SURF1”, referiu Manuela Grazina, citada pela Universidade de Coimbra. A cientista acrescentou ainda que isto permitiu “identificar a origem da doença” nos doentes do estudo, sendo um deles “referenciado como o doente vivo com mais idade, afetado com a doença de Leigh”.
Manuela Grazina esclareceu que “as mutações no gene SURF1 são uma das causas mais frequentes desta doença. A proteína SURF-1, codificada por este gene, tem uma função essencial na ‘montagem’ (assembly) das várias subunidades que constituem o complexo enzimático IV da cadeia respiratória mitocondrial, também denominado Citocromo Oxidase (COX)”.
Um “processo que é crucial no posicionamento correto dos componentes proteicos de modo a que a produção de energia ocorra de forma adequada”.
O estudo desenvolvido em Coimbra é um contributo importante “para compreender melhor a origem da doença de Leigh”, indicou Manuela Grazina, uma vez que “as mutações agora descobertas são mais uma peça do puzzle, porque já foram descritas mutações genéticas associadas à doença em mais de 20 genes diferentes (nucleares e mitocondriais) ”.