A Universidade de Coimbra está envolvida no primeiro ensaio clínico, a realizar em Portugal, de um tratamento inovador para crianças e adolescentes que sofrem de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) ou Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). Um tratamento a ser realizado em casa.
Este novo tratamento assenta numa abordagem desenvolvida no âmbito do projeto europeu STIPED, que envolve a colaboração científica de 10 universidades, clínicas e empresas de toda a Europa, incluindo a Universidade de Coimbra.
O tratamento, que vai entrar em ensaio clinico, baseia-se em métodos de estimulação cerebral inovadores, eficazes seguros e fáceis de realizar, “através da estimulação transcraniana por corrente contínua (em inglês, tDCS). Uma técnica não invasiva que fornece ao cérebro correntes diretas de baixa amplitude em regiões do cérebro que se pensa estarem comprometidas naquelas perturbações”, explicou Miguel Castelo-Branco, coordenador da equipa portuguesa e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), citado em comunicado pela UC.
O projeto europeu STIPED contou com um financiamento global de seis milhões de euros, atribuído pelo programa de investigação e inovação Horizonte 2020 da União Europeia. A primeira fase da investigação desenvolveu-se em ambientes clínicos e académicos mas o dispositivo médico foi recentemente aprovado pelas entidades reguladoras em vários países europeus para ser testado a ser usado em casa.
A UC indica que antes de iniciar este primeiro ensaio a partir de casa, a equipa de Miguel Castelo-Branco realizou vários estudos e três ensaios clínicos em laboratório, no Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do ICNAS, e em ambiente hospitalar, tendo envolvido cerca de uma centena de crianças e adolescentes saudáveis e com PHDA e PEA.
Após a conclusão do primeiro teste clínico com o novo dispositivo biomédico, os cientistas da UC pretendem realizar novos ensaios. Para isso pretende o apoio das famílias e dos potenciais voluntários, que se devem inscrever no projeto.
Miguel Castelo-Branco referiu que o projeto STIPED, que junta médicos, psicólogos, matemáticos, engenheiros e especialistas em bioética, tem como grande objetivo encontrar alternativas para substituir “as opções terapêuticas tradicionais, baseadas em medicação, que no caso do autismo são meramente sintomáticas e com efeitos secundários frequentemente severos”.
As entidades envolvidas no projeto indicam que se trata de um conceito completamente novo de terapia para perturbações neuropsiquiátricas crónicas em pediatria, que aposta no “tratamento personalizado, no uso de um dispositivo biomédico de tratamento domiciliário (uma touca de elétrodos) e num serviço de telemedicina que permite o controlo remoto da segurança, das configurações de estimulação e a monitorização contínua dos sintomas clínicos”.