Uma equipa de investigadores liderada pelo University College London identificou um novo gene que causa a cardiomiopatia hipertrófica, uma doença cardíaca hereditária que afeta uma em cada 500 pessoas. O estudo com a descoberta foi publicada no European Heart Journal e dá uma nova explicação causal para 1 a 2% dos adultos com a doença.
O estudo conclui que as novas variantes causais, conhecidas como variantes truncadas de ALPK3 (alfa-proteína quinase), devem ser adicionadas a um teste genético para permitir que os médicos possam identificar o maior de pessoas possível que estão em risco de desenvolver a doença e assim poderem beneficiar de um monitoramento regular.
Na cardiomiopatia hipertrófica, os músculos do coração são mais grossos, o que pode tornar mais difícil para o coração receber e bombear sangue. Embora na maioria dos casos a condição não afete a vida diária, pode causar insuficiência cardíaca e é frequentemente citada como a causa mais comum de morte súbita inesperada em jovens.
Cerca de metade dos casos de cardiomiopatia hipertrófica já têm causas genéticas conhecidas, ligadas a oito a 10 genes específicos, mas apenas dois desses genes isolados foram descobertos na última década.
“A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença genética extremamente comum. Estudos anteriores, em pequena escala, sugeriram que variantes no gene ALPK3 poderiam ser a causa de uma forma pediátrica rara de cardiomiopatia, mas apenas quando duas cópias anormais eram herdadas, esclareceu Luís Rocha Lopes, investigador no Instituto de Ciências Cardiovasculares do University College London e Cardiologista Consultor da Barts Health NHS Trust.
O investigador português Luís Lopes, também autor principal do estudo, referiu: “Provamos agora que apenas uma cópia anormal é suficiente para causar cardiomiopatia hipertrófica em adultos, observando um grande número de pacientes e familiares. Essa forma de herança (autossómica dominante) é muito mais prevalente, pois herdar apenas uma cópia anormal de um gene é mais provável do que herdar duas.”
“Identificar uma nova causa genética é importante, pois abre novas possibilidades de tratamento potencial. Também ajuda as famílias que foram afetadas pela doença, mas que não sabiam o porquê, a saber que uma causa foi encontrada para o seu caso específico”, acrescentou o investigador.
No novo estudo, a equipa internacional de investigadores analisou os genomas de 2.817 pessoas com cardiomiopatia hipertrófica de colheitas de centros na Espanha, Reino Unido, Dinamarca, Rússia, Letónia, Brasil e Argentina. A equipa comparou a prevalência das variantes ALPK3 com a da população em geral, e descobriu que era 16 vezes mais comum.
Os investigadores também estudaram a presença da variante dentro das famílias, testando se a mesma era causal ou não, e observaram se os membros da família portadores da variante também apresentavam diagnóstico da doença.
Os investigadores analisaram a natureza distinta da doença em comparação com a época em que era causada por falhas nos genes do sarcómero – a principal forma pela qual a doença é herdada. (A designação de genes do sarcómero, deve-se à sua função estar relacionada aos sarcómeros, a unidade contrátil básica, ou bloco de construção primário, da fibra muscular.)
A equipa de investigação descobriu que, nos casos em que o novo gene está implicado, a doença foi diagnosticada mais tarde (numa idade média de 56 anos), mas teve taxas semelhantes de insuficiência cardíaca e transplante cardíaco como nos casos ligados aos genes do sarcómero.
Os investigadores indicam que embora pouco se saiba sobre as consequências funcionais das variantes de ALPK3, no entanto, acreditam que elas desempenham um papel na regulação da função da proteína por meio de um processo de fosforilação. As proteínas são fundamentais para o processo de contração e relaxamento das células do músculo cardíaco.
Luís Lopes referiu: “As variantes de ALPK3 representam um caminho diferente para a doença do que as outras causas principais conhecidas nos genes do sarcómero. Esta descoberta é emocionante, pois estabelecerá novos alvos para terapias. Agora precisamos explorar os mecanismos que explicam como as variantes ALPK3 estão ligadas à condição.”
Atualmente, no Reino Unido, o teste genético é oferecido a todas as pessoas com diagnóstico de cardiomiopatia hipertrófica, em centros de referência como o Barts Heart Center e, se houver uma causa genética conhecida, também aos familiares.
Até ao momento não há cura para a doença, no entanto as pessoas com a doença são monitoradas regularmente, medicadas e recebem um cardioversor desfibrilador implantável, um dispositivo semelhante a um marca-passo que pode dar um forte choque elétrico no coração se detetar um batimento cardíaco perigosamente anormal.