A pandemia de COVID-19 têm vindo a afetar todo o mundo, desde o início de 2020, através da infeção direta pelo coronavírus SARS-Cov-2 como pelas consequências sociais e económicas. Além das conhecidas complicações respiratórios graves e do risco de complicações a longo prazo, investigadores, médicos e outros profissionais de saúde têm vindo a relatar o surgimento de complicações neurológicas.
Entre várias complicações neurológicas relatadas está a síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoimune em que o sistema imunológico de uma pessoa ataca os nervos, causando fraqueza muscular e, ocasionalmente, paralisia. A doença pode durar semanas ou vários anos. Até agora a doença era relativamente rara, podendo ser grave (dados disponíveis nos Estados Unidos, indicam que todos os anos desenvolvem a doença entre 3.000 a 6.000 pessoas).
É conhecido que a síndrome é desencadeada por uma infeção bacteriana ou viral aguda, e os médicos têm vindo a relatar, desde o início da pandemia, mais pessoas diagnosticadas com a doença de Guillain-Barré após a infeção por COVID-19. No entanto, até agora ainda não está completamente demonstrado que seja a COVID-19 ou outro fator infecioso a desencadear a doença.
Um estudo publicado na revista “Brain” pela Oxford University Press que envolveu 22% dos pacientes com síndrome de Guillain-Barré incluídos no Internacional GBS Study durante os primeiros 4 meses da pandemia tiveram uma infeção anterior por COVID-19. Todos esses pacientes tinham mais de 50 anos de idade, com 65% a apresentar paralisia facial. Na admissão hospitalar, 73% dos pacientes de Guillain-Barré apresentavam infeção por COVID-19 com marcadores inflamatórios aumentados. Todos esses pacientes preencheram os critérios de diagnóstico para a síndrome de Guillain-Barré e COVID-19.
Os investigadores enfatizaram, no entanto, que não encontraram mais pacientes com diagnóstico de síndrome de Guillain-Barré durante os primeiros quatro meses da pandemia, em comparação com os anos anteriores. O que pode sugerir que, embora possa haver uma forte associação entre uma infeção por COVID-19 e a síndrome de Guillain-Barré não é clara que uma infeção por COVID-19 possa levar os pacientes a desenvolver a síndrome de Guillain-Barré.
“Nosso estudo mostra que COVID-19 pode preceder a síndrome de Guillain-Barré em casos raros, disse Bart C. Jacobs, um dos autores do estudo,“ mas a existência de uma verdadeira associação ou relação causal ainda precisa ser estabelecida ”.