Dia Mundial da População: Porquê falar de AVC?

O Acidente Vascular Cerebral é a principal causa de morte em Portugal, mas que é possível combater, como alerta a especialista em medicina interna, Ana Paiva Nunes, neste seu artigo, e onde deixa alguns conselhos para promoção da saúde individual.

Ana Paiva Nunes, Medicina Interna, Coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC
Ana Paiva Nunes, Medicina Interna, Coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC. Foto: DR

Neste Dia Mundial da População (11 de julho) faz todo o sentido falarmos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), porque nada é mais sustentável do que a promoção da saúde em vez do tratamento da doença, sabendo nós que o AVC é a principal causa de mortalidade e incapacidade no nosso país. Para a promoção da saúde o mais importante é o conhecimento por parte da população do que são estilos de vida saudáveis e sustentáveis.

Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral sabemos que o mais difícil é mudar comportamentos e a promoção da saúde é exatamente favorecer os comportamentos saudáveis em vez dos prejudiciais. Para isto acontecer é importante também saber-se o porquê das medidas sugeridas para promoção da saúde individual de cada um de nós:

  • Devemos não fumar porque o tabaco, além de aumentar o risco de doenças pulmonares e de cancros vários, é um acelerador da aterosclerose, que vai dificultar que as nossas artérias transportem bem o sangue para todos os nossos órgãos, onde se inclui o cérebro;
  • Devemos ter uma alimentação saudável e sustentável, porque as nossas escolhas alimentares têm um impacto direto em todo o nosso organismo e também no nosso planeta;
  • Devemos moderar o consumo de álcool e evitar o sal, que têm repercussão direta nos valores de pressão arterial a que sujeitamos todo o nosso sistema circulatório, que vai transportar os nutrientes para todos os nossos órgãos;
  • As nossas escolhas devem ser também sustentáveis preferindo produtos frescos, locais, da época, reduzindo o consumo de carne e de alimentos pré-confecionados, que têm um impacto deletério tanto na nossa saúde como em todo o planeta;
  • Devemos fazer exercício físico moderado de forma regular e incluir esta prática nas atividades normais da vida quotidiana, como fazendo parte dos nossos hábitos de higiene;
  • Se tivermos alguma doença ou fator de risco já identificado, como a hipertensão arterial, a diabetes ou a fibrilhação auricular, devemos ser exigentes com o cumprimento da medicação recomendada pelos médicos e garantir que essa medicação está a ter o efeito pretendido, nomeadamente que a pressão arterial e a diabetes estão efetivamente controladas para os valores alvo pretendidos e que não nos esquecemos de tomar o anticoagulante no caso de termos uma fibrilhação auricular. Todas estas atitudes contribuem para diminuir o risco de se sofrer um AVC, mas o conhecimento não pode acabar aqui.

Todos nós temos que saber quais são os sinais de alerta para um AVC – boca ao lado, dificuldade em falar, falta de força num braço – e é fundamental saber-se que, ao contrário daquilo que acontecia há duas década atrás, hoje o AVC é tratável, mas é uma EMERGÊNCIA.

A probabilidade de uma pessoa ficar sem sequelas após um AVC depende da rapidez do tratamento, portanto, perante uma pessoa que desenvolve um AVC, a atitude correta é SEMPRE LIGAR O 112, como se faz para todas as Emergências Médicas. Desta forma, o doente é encaminhado para o Hospital mais próximo com capacidade para fazer o tratamento do AVC. Ir pelos próprios meios para o Hospital é uma atitude errada, porque o Hospital pode não estar preparado para receber um doente com AVC e perde-se tempo crucial.

Numa altura de tanta indefinição como a que vivemos atualmente, existem, contudo, coisas que estão muito bem definidas e estão nas mãos de cada um de nós. Escolher um estilo de vida saudável e sustentável é a medida mais eficaz que individualmente podemos tomar.

 

Autora: Ana Paiva Nunes, Medicina Interna, Coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC