Um novo estudo sobre a influência da condição física nos fatores de risco de doentes cardíacos, apresentado no Congresso Canadiano sobre saúde Cardiovascular, a ser publicado na revista ‘Cardiopulmonary Rehabilitation and Prevention’, demonstra que uma condição física mesmo fraca, até 20% abaixo da média da população saudável, é suficiente para agir de maneira preventiva sobre a maioria dos fatores de risco que afetam as pessoas com doença cardiovascular.
Para todos os tipos de doenças espera-se que os investigadores desenvolvam um tratamento ‘milagroso’. No entanto, é exigindo mais algum esforço do que engolir um simples comprimido. Tem sido demonstrado repetidamente que a prática de atividade física é um excelente tratamento preventivo e curativo para muitas doenças, indica a Universidade de Montreal (UM), em comunicado.
O resultado do estudo “é uma boa notícia para as pessoas que sofrem de doenças cardíacas e que têm dificuldade em aderir a um programa regular de exercícios físicos, principalmente aeróbicos”, sublinhou Daniel Curnier, investigador da Universidade de Montreal, e líder do estudo. “Pequenas melhorias na condição física são suficientes. Não é necessário ser um atleta para beneficiar destes efeitos”.
Maxime Caru, investigador, doutorando da UM e da Universidade de Paris-Nanterre, bem como primeiro autor do estudo, referiu, citado pela UM: “Nós sabemos de vários estudos científicos que uma boa condição física permite reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares e que a prática de uma atividade física tem uma influência positiva sobre os fatores de risco cardiovasculares após um programa de reabilitação”.
No entanto, o investigador acrescenta que “o efeito da condição física sobre os fatores de risco permanecem uma questão em aberto. É por isso que a equipa de investigação colocou a seguinte questão: É necessária uma boa condição física para beneficiar da ação preventiva sobre os fatores de risco cardiovascular?”
A industrialização da sociedade teve consequências significativas sobre a atividade física do ser humano, que se tornou cada vez mais sedentário. O aparecimento dos fatores de risco – grande cintura, depressão, diabetes, dislipidemia, hipertensão, obesidade, excesso de peso, tabagismo – fazem parte da sedentariedade e são terreno favorável ao desenvolvimento de doenças cardíacas.
As doenças cardíacas são uma das principais causas de morte em todo o mundo, representando 31% da mortalidade global. E esta percentagem não pára de aumentar desde os últimos anos, esclarece a UM.
“É comum encontrar pessoas na entrada de um centro de reeducação e reabilitação cardíaca que não possuem condição física e que não praticam uma atividade física ou praticam de forma irregular. Uma condição que tem efeitos muito nocivos sobre a saúde geral e cardiovascular”, indicou Maxime Caru.
Para medir o impacto da condição física nos fatores de risco em doentes cardíacos, os investigadores selecionaram 205 homens e 44 mulheres com doença cardíaca, incluindo doenças coronárias, infartos, insuficiência cardíaca e valvulopatias, e submeteram os 249 doentes a uma prova de exercício de bicicleta estacionária para determinar a sua condição física.
Os resultados do estudo demonstraram que a condição física normal, e mesmo até 20% abaixo da média da população, é suficiente para que haja uma ação preventiva em cinco dos oito fatores de risco que afetam as pessoas que sofrem de doenças cardiovasculares.
Para uma condição física normal num indivíduo saudável, a Organização Mundial da Saúde recomenda 150 minutos por semana de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade sustentada.
A depressão é um fator de risco para a doença cardiovascular, pois os pacientes cardíacos que experimentaram um episódio de depressão têm problemas cardíacos recorrentes. Os resultados do novo estudo demonstram a importância de ter uma boa condição física antes e depois de um ataque cardíaco, dado que a mesma terá um efeito preventivo sobre a depressão, esclarece a UM.
Este estudo lança uma nova luz sobre o papel geral da condição física no desenvolvimento de fatores de risco cardiovascular em pacientes com doença do foro cardiovascular. No entanto, os investigadores insistem sobre a importância dos doentes cardíacos consultarem o médico antes de começarem um programa de exercícios físicos e ou de fisioterapia, dado que “somente o médico é capaz de indicar que tipo de exercício é seguro e como implementar um programa de exercícios”, alertam os autores do estudo.