No atual contexto de crise, originado pela pandemia da Covid-19 e os efeitos do confinamento social, as livrarias, espaços incontornáveis de cultura e cidadania, travam diariamente, no território nacional e nas comunidades portuguesas no mundo, hercúleas batalhas de sobrevivência.
Muitas são as que no decurso dos últimos tempos pereceram no campo de batalha, soçobrando às incursões da concorrência de grandes cadeias, à forte pressão nas rendas do mercado imobiliário, à falta de apoios ou à alteração do modo de ler, que já não se cinge exclusivamente a ler o livro em papel.
No entanto, ainda há quem resista, insistindo em manter as portas abertas apesar das incessantes contrariedades, quais faróis de uma sociedade em que nunca foi tão necessário parar para ler, refletir e cultivar a sabedoria. É o caso da Livraria Portuguesa de Macau, uma das principais vitrinas da cultura lusófona no Oriente, que para além de funcionar como local de venda de livros e de outros produtos culturais, organiza regularmente sessões de apresentação de livros e exposições.
Fundada em 1985 pelo Instituto Cultural de Macau, numa época em que o território asiático ainda se encontrava sob administração lusa, a Livraria Portuguesa de Macau é atualmente detida pelo Instituto Português do Oriente (IPOR). Uma entidade pública empresarial nacional, que assume como missão central preservar e difundir a língua portuguesa e a cultura lusófona no Oriente, com vista à continuidade e aprofundamento do diálogo intercultural.
Enfrentando as diversas dificuldades com que as estruturas livreiras se debatem quotidianamente, a que assomam os problemas relacionados com a importação de livros a partir do país, mormente a distância e o custo do transporte, a Livraria Portuguesa de Macau persiste na dinamização de iniciativas e atividades direcionadas para a comunidade portuguesa em Macau.
Mas para além da comunidade lusa em Macau, cifrada em milhares de compatriotas, a Livraria Portuguesa tem procurado simultaneamente atrair um público mais vasto, de residentes de Macau que não dominam a língua de Camões e também de turistas que visitam a região autónoma chinesa.
Enquanto espaço relevante de promoção da língua portuguesa, o quarto idioma mais falado no mundo como língua materna (depois do mandarim, do inglês e do espanhol), e que está a conquistar cada vez mais estudantes chineses, segundo dados recentes do Instituto Camões atualmente cerca de cinco mil chineses estudam português em 47 universidades, a Livraria Portuguesa de Macau desempenha uma missão fundamental na dinamização da cultura lusófona no Oriente, assim como no fortalecimento das relações interculturais luso-chinesas.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor