A exposição “A Vez das Deusas. Cartazes da Índia no Museu do Oriente” abre ao público dia 7 de maio, e assinala mais um aniversário do Museu do Oriente. A exposição, com entrada gratuita, dá a conhecer uma parte fascinante da cultura visual e da história contemporânea da Índia, para lá das imagens coloridas e atrativas dos cartazes e a partir deles e dos deuses que estes representam.
Uma história pela abordagem dos Cartazes Indianos enquanto objetos de devoção, para o culto aos deuses, mas também como instrumentos para a afirmação de poderes políticos e religiosos e para a definição de papéis sociais de género, como o da mulher.
A exposição está organizada em diversos núcleos que abordam a origem dos Cartazes na Índia, a sua utilização em contexto colonial e pós-colonial, a passagem da litografia ao offset e a sua massificação, o usos dos Cartazes para fins políticos e religiosos, com destaque para os Hindus e para o uso destes em rituais de devoção, chamados puja, e na publicidade de marcas, passando pela influência dos cânones estéticos na aparência das imagens, contando com um espaço-loja e, finalmente, o tema central a esta exposição, um núcleo integralmente dedicado às deusas.
Central e transversal aos temas da exposição, e ao programa de atividades a esta associado, encontra-se o conceito darshan, olhar e ser olhado, o que se destaca pela importância que detém para o culto religioso, feito a partir destes Cartazes, e que o objetivo é promover como prática social essencial para a compreensão do próximo, do Outro.
Darshan é a correspondência entre o olhar fixo das divindades nos cartazes, e o retorno do olhar do devoto, que resulta na aproximação de ambos, na personificação da divindade, e na receção da luz divina.
Fortes, frágeis, poderosas e submissas, as deusas representadas nos Cartazes da Índia dão o mote para uma reflexão sobre os desafios de ser mulher hoje, múltipla, complexa e divina. Sob o olhar das deusas, num total de 97 Cartazes da colecção Kwok On do Museu do Oriente, são exploradas as suas qualidades humanas e mundanas, com as suas características divinas e sobre-humanas, para notar conceitos e paradoxos que falam sobre o que significa ser deusa e mulher na realidade em que vivemos.
As representações de deusas e de personagens femininas da mitologia Hindu são o ponto de partida para pensar a visibilidade e protagonismo destas figuras. Partindo do contexto histórico, bem como das suas funções e usos religiosos e sociais, estes Cartazes sugerem pistas para uma reflexão sobre a condição feminina e as questões de género, desde a identificação de estereótipos representados, à utilização da imagética dos Cartazes para consciencializar a sociedade, por exemplo, numa campanha publicitária contra a violência doméstica.
Encontramos Brahma, Shiva e Vishnu, deuses maiores, ao lado de Saraswati, Parvati e Lakshmi, as suas deusas consortes, numa dualidade clássica de género que leva a crer que estamos perante uma representação submissa e maternal das divindades femininas às divindades masculinas. Mas o panteão hindu também apresenta deusas independentes e ferozes como Kali, Durga e Shakti, que são autónomas e adoradas individualmente, ou Yellama e Bahuchara Mata dedicadas a grupos sociais de diferentes géneros.
A partir do final do século XIX, com a introdução das prensas para litografia na Índia, pela mão dos colonos britânicos, os cartazes de divindades hindus tornaram-se amplamente populares. Antes, as imagens de divindades eram pintadas à mão e comercializadas numa escala relativamente pequena.
A massificação da produção, com a impressão offset na década de 1950, facilitou a introdução destes objetos no espaço público e privado, e foi também explorada pelos britânicos como forma de contribuir para fortalecer a administração colonial. Por serem mais baratas e fáceis de produzir e transportar, tornaram-se acessíveis e conquistaram o estatuto de arte devocional popular no Hinduísmo.
O interesse público generalizado pelos Cartazes fez crescer o mercado: às representações de divindades hindus, como imagens de e para devoção, juntam-se imagens com propósitos políticos e comerciais. Além da sua importância no ritual de culto e devoção, os Cartazes passam a ser atribuídos de valor também para afirmação de líderes políticos e legitimação do Estado-Nação indiano no pós-independência. A promoção de produtos e marcas de consumo alinham-se e cruzam-se com divindades hindus, o deus Shiva e a deusa Lakshmi, a título de exemplo, encontram-se de forma natural numa publicidade de cigarros beedis.
Através de elementos auspiciosos, com cores fortes e visualmente estimulantes, os Cartazes são um reflexo da época em que se encontram. Tiveram um papel importante na forma como são representadas as divindades ou como se pretende que sejam representadas: humanizadas, dotadas de características humanas, mas também, mais ocidentais. Rostos mais finos, tons de pele mais claros, músculos mais definidos nos deuses e corpos mais delgados nas deusas, são mudanças visíveis nestes objetos.
A exposição pode ser visitada até 3 de outubro e é comissariada por Liliana Cruz, Mestre em Gestão e Estudos da Cultura-Museologia (ISCTE-IUL), licenciada em História Moderna e Contemporânea e ex-Bolseira da Fundação Oriente para estudo da cultural visual da Índia.
De forma a explorar as temáticas sugeridas por esta exposição, o Museu do Oriente organiza um conjunto de atividades paralelas, até outubro, que incluem a exibição de um documentário, uma mesa-redonda com a participação de especialistas em temas da sociedade e identidade visual da Índia, oficinas e visitas temáticas e com a curadora.
O Museu do Oriente recebeu o Selo Clean & Safe para Museus, Palácios, Monumentos e Sítios Arqueológicos, atribuído pelo Turismo de Portugal em articulação com o Ministério da Cultura, às entidades que cumprem as recomendações da Direcção-Geral da Saúde e asseguram o cumprimento dos requisitos de higiene e limpeza para prevenção e controlo da COVID-19.
Exposição: “A Vez das Deusas. Cartazes da Índia no Museu do Oriente”
Data: de 7 de maio a 3 de outubro de 2021
Horário: terça a quinta-feira | 10h00 às18h00, (à sexta-feira o horário prolonga-se até às 20h00), sábado e domingo | 10h00 às 13h00
Entrada Gratuita