A presença pioneira dos portugueses na Ásia no séc. XVI e XVII, catalisadora dos primeiros contactos entre a Europa e o Oriente, difundiu durante a epopeia dos descobrimentos a língua de Camões por diversas regiões do continente asiático.
Através da dominação política, do comércio ou da missionação, a influência lusa no maior dos continentes terrestres, ao longo da expansão marítima, estendeu-se ao subcontinente indiano, a Ceilão, às áreas em torno da Baía de Bengala, ao Golfo Pérsico, a Sião, a Timor, às Molucas, à China e ao Japão.
Como salienta o investigador Hugo Cardoso, em O português em contacto na Ásia e no Pacífico, a língua lusa enraizou-se a partir de então “na região asiática ao ponto de se converter em importante língua franca de comércio e diplomacia, sobretudo para comunicação com e entre as demais potências europeias (britânicos, franceses, neerlandeses, dinamarqueses) que se começaram a estabelecer na Ásia a partir de finais do século XVI”.
Uma das regiões asiáticas que ainda hoje conserva importantes vestígios da presença lusa, em particular no campo linguístico, é indubitavelmente Macau, um território sob administração portuguesa até 1999, situado na costa sul da China, nação que reassumiu a soberania sobre a região em 20 de dezembro desse ano.
Durante a vetusta administração lusa em Macau desenvolveu-se inclusivamente um crioulo de base portuguesa, normalmente denominado como patoá, mas também conhecido como língu nhonha, papiâ cristâm di Macau, papiaçâm, maquista, ou macaísta, que mistura português, cantonês, malaio, cingalês, mas também tem influências do inglês, tailandês, japonês e algumas línguas da Índia.
Como aponta Alexandra Hagedorn Rangel, na dissertação de mestrado Filhos da terra: a comunidade macaense, ontem e hoje, devido “ao desenvolvimento da escolarização feita em português durante o século XX, o patuá acabou por cair em desuso e, hoje em dia, apenas as pessoas de muita idade é que ainda falam o patuá com fluência”.
De fato, atualmente o crioulo de Macau é um idioma de origem portuguesa em vias de extinção, a quem restam apenas meia centena de falantes, sendo que um dos mais conhecidos, Aida de Jesus, ou Dona Aida, fundadora do restaurante Riquexó, conhecida como a “madrinha da cozinha macaense”, faleceu no decurso do mês de março aos 105 anos.
Na esteira do linguista Ataliba Teixeira de Castilho, as “línguas não são eternas. Pelo contrário, elas morrem enquanto outras nascem e se multiplicam”, sendo que no caso específico do Patoá, património imaterial da presença portuguesa em Macau, a sua reminiscência deve continuar a servir de base ao fortalecimento das seculares relações luso-chinesas.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor