Em todo o mundo, o enfarte agudo do miocárdio tem sido considerado uma doença maioritariamente masculina, o que levou a que, “durante muitos anos, as mulheres fossem subdiagnosticadas e tratadas tardiamente”, referiu João Brum Silveira, presidente da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC).
Para alertar a população para o facto da doença, também, atingir o sexo feminino, a APIC promove uma nova ação nacional de consciencialização para o enfarte agudo do miocárdio, com o tema “O enfarte também é feminino”. Uma iniciativa a ser lançada no âmbito do Dia Internacional da Mulher, que se assinala a 8 de março, nas redes sociais da Associação.
“Em Portugal, a incidência do enfarte agudo do miocárdio continua a ser elevada. Esta realidade deve-se, em muito, ao estilo de vida contemporâneo. No mundo atual estamos constantemente sujeitos a elevados níveis de stress e de ansiedade e as mulheres não são exceção, pois muitas vezes vão acumulando funções profissionais e de gestão familiar. Além disso, também os fatores de risco como hipertensão, dislipidemia, diabetes, menopausa, tabagismo, excesso de peso e sedentarismo contribuem para o aumento do risco de desenvolver a doença”, refere o presidente da APIC.
“Nos últimos anos, têm sido feitos esforços no sentido de consciencializar a população em geral e os profissionais de saúde, para que se reconheça e se trate de forma célere o enfarte na população feminina. O subdiagnóstico nas mulheres poderá ocorrer devido à maior dificuldade que as mulheres reportam em identificar os sintomas, uma vez que, muitas vezes, ou não sentem uma dor tão intensa ou são capazes de a suportar por mais tempo”, explica Pedro Farto Abreu, coordenador nacional da campanha “Cada Segundo Conta”, em que se insere esta ação.
Apesar disto, e de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2018, registaram-se 4.620 mortes por enfarte agudo do miocárdio, que atingiram, maioritariamente homens, com uma relação de 136,2 óbitos de homens por 100 de mulheres. A idade média do óbito para as mulheres situou-se nos 81,4 anos.
Os dados do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção (RNCI), desenvolvido pela APIC, indicam que, em 2020, foram realizadas 3.817 angioplastias primárias para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio, um aumento de 2,5 por cento, face ao ano anterior. Cerca de um quarto dos doentes tratados foram mulheres com uma média de idade de 68 anos, com um índice de massa corporal médio de 29,5, 26 por cento das quais fumadoras.
O enfarte agudo do miocárdio ocorre quando uma das artérias do coração fica obstruída, o que faz com que uma parte do músculo cardíaco fique em sofrimento por falta de oxigénio e nutrientes. Dor no peito, suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade são sintomas de alarme para o enfarte agudo do miocárdio. Sintomas que não devem ser ignorados e que exigem o apoio urgente dos serviços de saúde.
A APIC indica que a ação “O enfarte também é feminino” está inserida na Campanha “Cada Segundo Conta”, promovida pela Associação, e que tem como objetivo promover o conhecimento e a compreensão sobre o enfarte agudo do miocárdio e os seus sintomas; e alertar para a importância do diagnóstico atempado e tratamento precoce.
A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), uma entidade sem fins lucrativos, tem por finalidade o estudo, investigação e promoção de atividades científicas no âmbito dos aspetos médicos, cirúrgicos, tecnológicos e organizacionais da Intervenção Cardiovascular.