A pandemia levou 30% das empresas em Portugal a acelerar os planos de digitalização e automação, concluiu o estudo “Skills Revolution Reboot: os três R’s – Renovar, Requalificar, Redistribuir”, do ManpowerGroup. O estudo avaliou o impacto da COVID-19 na transformação digital e nas competências.
Mas o estudo também indica que apenas 16% dos empregadores nacionais optaram por suspender os seus projetos de digitalização. A nível global, 38% dos empregadores optaram por acelerar a transformação digital e 17% por adiar.
Dados do inquérito, conduzido a mais de 26.000 empregadores, em mais de 40 países, mostram que as empresas que estão a digitalizar mais estão também a contratar mais: a nível global, com 86% dos empregadores, que estão a automatizar planeiam aumentar ou manter o número de colaboradores, um valor que desce para 11% no caso das empresas que tencionam reduzir ou suspender os seus planos de digitalização. Em Portugal, esta realidade é ainda mais acentuada, com 90% dos empregadores com planos de automatização a declarar pretender contratar mais colaboradores e apenas 3% a planear reduzir as contratações.
Rui Teixeira, Chief Operations Officer da ManpowerGroup Portugal referiu: “Há já alguns anos que, no ManpowerGroup, temos identificado uma correlação positiva entre a automatização e a criação de emprego, contrariando visões mais pessimistas. Hoje, a pandemia acelerou de forma significativa o impacto da digitalização na forma como vivemos e trabalhamos e estamos a observar de forma clara estes efeitos positivos ao nível da criação de emprego. Não obstante, e tal como assinalamos neste estudo, esta é uma realidade díspar.”
O responsável da ManpowerGroup Portugal acrescentou: “Paralelamente, estão também a aumentar as desigualdades no mundo do trabalho, como consequência de uma recuperação económica em K e do crescente desencontro entre o talento disponível e necessidades do mercado. Acentua-se o fosso entre os que dispõem de competências com elevada procura e aqueles que não as têm. Corrigir este desequilíbrio é um desafio prioritário, que teremos de abordar mediante um esforço conjunto de empresas, setor público e instituições de ensino.
Mas para Rui Teixeira existe a possibilidade de corrigir o desequilíbrio dado que há 41% de empresas portuguesas que apontam o esforço de qualificação e requalificação como a primeira prioridade para os Recursos Humanos.
A digitalização reforça os mais capazes
Mas nem todas as organizações revelaram capacidade para acelerar os planos de transformação digital. A nível global, 45% dos empregadores afirmam que a crise da COVID-19 não teve qualquer impacto nos seus projetos de digitalização. Em Portugal, este número sobe para 51% e coloca o país na lista dos 10 que vão automatizar menos, ao lado da China, Reino Unido, Índia, Espanha, Eslovénia, Israel, França, República Checa e Hong Kong. O grupo dos 10 que vão digitalizar mais é encabeçado pela Alemanha e inclui ainda Áustria, Grécia, Suíça, Panamá, Costa Rica, Japão, Guatemala, Itália e México.
As grandes empresas (mais de 250 colaboradores) são as que planeia digitalizar e contratar mais, em Portugal e a nível global. No sentido contrário, as empresas de menor dimensão, mais impactadas pela pandemia, tendem a suspender os seus projetos de digitalização e apresentam planos de contratação mais reduzidos. As grandes organizações pretendem automatizar principalmente as funções de produção, as funções administrativas, de IT e Front Office. As pequenas empresas preferem avançar com as funções de suporte, como o apoio administrativo, atendimento ao cliente e finanças.
Os setores mais lentos a automatizar antes da pandemia estão agora a recuperar caminho. É o caso das Finanças, Seguros, Imobiliário e Serviços, que apostam na digitalização para as funções de primeira linha e em áreas administrativas ou de atendimento ao cliente. A nível global, 21% das empresas destes setores tencionam digitalizar mais na sequência da pandemia. Já os setores mais afetados pela crise – Indústria, Construção e Retalho – mostram-se divididos entre agir rapidamente ou esperar para ver.
No que diz respeito aos empregadores portugueses, no setor do retalho 16% prefere automatizar já e 7% esperar; na Indústria, 11% quer avançar e 20% adiar e nas Finanças, Seguros e Imobiliário e Serviços, 13% quer agilizar e 8% suspender.
Recuperação em K
O estudo do ManpowerGroup revela também que, um ano depois do início da crise, estamos a assistir ao arranque de uma recuperação em forma de K, ou seja, uma recuperação a duas velocidades, com alguns setores e pessoas a recuperar melhor e de forma mais rápida e outros tendencialmente a ficarem ainda mais para trás. Ao mesmo tempo, a escassez de talento agrava-se à medida que a procura de competências técnicas aumenta, provocando uma cisão crescente na força de trabalho entre quem tem ou não as capacidades mais desejadas.
Entre as competências mais procuradas contam-se, agora, especialistas em cibersegurança, gestores de projeto, analistas de dados, especialistas em marketing digital, profissionais de saúde e especialistas em logística e gestão de armazéns, entre outros. Na ponta descendente do K estão funções como atendimento ao cliente, funções administrativas, gestor de operações ou trabalhadores da construção.
Paralelamente, a revolução nas competências está também a gerar uma maior procura por competências humanas. Soft skills como a comunicação, gestão de prioridades, adaptabilidade, pensamento analítico e a iniciativa e empatia são hoje consideradas fundamentais para conseguir uma força de trabalho ágil e resiliente em momentos de mudança e disrupção, reforçando a empregabilidade a longo prazo.