A plitidepsina, um medicamento aprovado para o tratamento do mieloma múltiplo, mostrou em modelos pré-clínicos ser um medicamento mais potente do que o remdesivir no tratamento da COVID-19.
Os resultados do estudo publicado, hoje, 25 de janeiro, na revista Science sugerem que a plitidepsina deve ser avaliada como um tratamento para a COVID-19. O medicamento é justificado, pelos autores do estudo, por ter como alvo a proteína hospedeira em vez da proteína viral. Com o uso da plitidepsina o vírus SARS-CoV-2 não será capaz de ganhar resistência facilmente contra o medicamento através de mutação, indicam os investigadores.
A evolução da pandemia de SARS-CoV-2 criou a necessidade de terapêuticas antivirais que possam ser rapidamente transferidas para a clínica. Esta necessidade levou os investigadores a rastrear antivirais já aprovados clinicamente.
Enquanto os antivirais tradicionais, como o remdesivir, têm como alvo enzimas virais que muitas vezes estão sujeitas a mutações e, portanto, ao desenvolvimento de resistência aos medicamentos, os antivirais que têm como alvo as proteínas celulares do hospedeiro necessárias para a replicação viral podem evitar a resistência.
Investigação anterior sobre proteínas do hospedeiro, que provavelmente desempenham um papel no ciclo de vida viral do SARS-CoV-2, mostrou que ao direcionar a máquina de tradução do hospedeiro, que é usada na replicação de muitos patógenos virais, pode inibir o SARS-CoV-2.
Assim, investigadores nos EUA, na França e em Espanha, avaliaram a plitidepsina, um conhecido inibidor de uma proteína envolvida na tradução da proteína do hospedeiro. Além do medicamento ter uma aprovação clínica limitada para o tratamento de mieloma múltiplo, também concluíram com sucesso um estudo clínico de fase I e II para o tratamento de COVID-19.
Estudos, em células humanas, mostraram que a plitidepsina tem uma potente atividade anti-SARS-CoV-2. Uma atividade 27,5 vezes maior do que a apresentada pelo remdesivir, quando testado na mesma linha celular.
Num modelo de células pulmonares humanas, a plitidepsina reduziu bastante a replicação viral. Após mais estudos in vitro, envolvendo o remdesivir e a plitidepsina, os investigadores concluíram que a plitidepsina tem um efeito aditivo ao remdesivir, podendo ser um potencial candidato para uma terapia combinada.
Os investigadores testaram o medicamento plitidepsina em ratos infetados com SARS-CoV-2. Os ratos que receberam o medicamento profilaticamente reduziram a carga viral e a inflamação pulmonar em comparação aos ratos de controlo que não receberam o medicamento.
Os autores do estudo concluíram: “Acreditamos que os nossos dados e os resultados positivos iniciais do ensaio clínico da PharmaMar sugerem que a plitidepsina deve ser fortemente considerada para estudos clínicos expandidos para o tratamento da COVID-19”.