Muitos indivíduos com COVID-19 têm vindo a queixar-se de dores de cabeça, juntamente com uma sensação de “confusão” ou névoa cerebral, que pode persistir durante semanas ou meses após a recuperação dos sintomas respiratórios agudos. O que é designado, muitas vezes, por “cérebro COVID”.
As implicações clínicas de longo prazo da infeção pelo coronavírus continuam a confundir os cientistas. Até agora acreditavam que as manifestações neurológicas fossem resultado de danos diretos da COVID-19 nas células nervosas. No entanto, um novo estudo já publicado no New England Journal of Medicine vem sugerir que o coronavírus pode danificar os pequenos vasos sanguíneos do cérebro, em vez das células nervosas.
O estudo, “Lesão Microvascular no Cérebro de Pacientes com COVID-19,” foi liderado pelo National Institutes of Heatlh (NIH) e Uniformed Services University (USU) em colaboração com várias universidades, e outras organizações governamentais. Com base no conhecimento de que a COVID-19 pode causar inflamação nos vasos sanguíneos e ao redor deles em outras partes do corpo, os pesquisadores examinaram em pormenor os cérebros de 13 pacientes que morreram de COVID-19.
Através de ressonância magnética de alta resolução fizeram uma varredura dos tecidos cerebrais dos pacientes, e os investigadores identificaram hiperintensidades focais, que correspondiam a pequenos vasos sanguíneos mostrando evidências de inflamação e danos nas paredes desses vasos. Danos que incluíam o vazamento de uma proteína, fibrinogénio, do sangue para áreas adjacentes do cérebro. Apesar de usarem técnicas muito sensíveis, os investigadores não foram capazes de detetar níveis significativos de SARS-CoV-2, o vírus que causa COVID-19, nos cérebros dos casos que estudaram, e encontraram muito poucas evidências de danos nas células nervosas.
Neste estudo os investigadores estudaram os cérebros dos pacientes que na sua maioria morreram sem que tivessem sido hospitalizados por causa da doença. Estudos anteriores tinham analisado principalmente pacientes com hospitalização prolongada, incluindo o uso de ventiladores. Estes fatores podem dificultar a interpretação sobre quais são os efeitos diretos do vírus no cérebro e quais são as consequências no corpo de hospitalizações prolongadas, explicou Dan Perl, patologia da USU, diretor da USU Brain Tissue Repository (BTR), e um autor do estudo.
“A COVID-19 parece ter uma tendência para danificar os pequenos vasos sanguíneos no cérebro, ao contrário das próprias células nervosas”, referiu Dan Perl.
O investigador acrescentou: “Estas descobertas abordam conceitos importantes para a compreensão das manifestações neurológicas agudas e persistentes da COVID-19, em geral”, e dado que “a pandemia está a alastrar-se tanto nas populações civis como nas militares e a produzir uma mortalidade considerável e efeitos de longo prazo entre os que têm recuperado da infeção, os resultados do estudo são de interesse e importância para ambas as comunidades.”
O estudo envolveu uma colaboração entre a USU, o National Institute of Neurological Disorders and Stroke do National Institutes of Health, a University of Auckland na Nova Zelândia, a University of Michigan, o Joint Pathology Center, a New York University School of Medicine e a University of Iowa.