O movimento associativo das comunidades portuguesas constitui um dos mais importantes elos de ligação dos inúmeros compatriotas espalhados pelo estrangeiro à língua, cultura, história e memória da pátria de origem, e simultaneamente uma das marcas mais expressivas da sua inserção socioprofissional nos territórios de acolhimento.
Espaços privilegiados de cultura e participação cívica, o movimento associativo é a argamassa identitária que une as comunidades portuguesas, e um conjunto essencial de estruturas que as elevam à condição das mais genuínas embaixadoras de Portugal no mundo.
Nestes tempos de pandemia, que mudou radicalmente a forma como as sociedades operam, o meio associativo das comunidades lusas encontra-se submerso em dificuldades e incertezas.
Dificuldades e incertezas resultantes do cenário pandémico, que entrava a realização de eventos e iniciativas, como foi o caso paradigmático do Dia de Portugal, qual barómetro anual da dinâmica e vitalidade do meio associativo na diáspora, que este ano que agora finda se cingiu a comemorações simbólicas.
Celebrações minimalistas que substituíram a realização de tradicionais iniciativas, que em muitos casos garantem a obtenção de receitas que permitem custear o normal funcionamento das associações, como seja o pagamento da água, luz, rendas dos espaços ou a sua manutenção.
Nesse sentido, o risco de fecho definitivo de diversas associações no seio das comunidades portuguesas, nunca foi tão real, e é ainda agravado por problemáticas muito anteriores ao surgimento da pandemia. Designadamente, o envelhecimento dos seus quadros dirigentes, da maioria dos seus associados e da escassa participação dos lusodescendentes.
Este perigo acrescido de encerramento coloca portanto vários desafios ao futuro próximo do movimento associativo das comunidades portuguesas, que desde logo deve colocar definitivamente em cima da mesa, não só, quando a vida tender a normalizar em 2021 com os programas de vacinação em massa, a diversificação de atividades capazes de conciliarem a cultura tradicional enraizada nas coletividades com novas dimensões socioculturais, como o cinema, a literatura ou a moda, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes.
Como também a adotar um novo modelo de atuação e organização das associações, que em muitos casos, poderá passar por um paradigma de partilha de uma “casa comum”, capaz de reunir num só espaço com dignidade e dimensão a valiosa argamassa identitária das comunidades portuguesas.
Uma “Casa de Portugal”, de portas abertas a parcerias com agremiações, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa, com uma agenda capaz de congregar diversas sinergias, de diluir diferenças e divergências. E assim potenciar o coletivo, a união, e os cada vez mais parcos recursos humanos e financeiros que existem no movimento associativo luso em prol da cultura portuguesa.
Uma “Casa de Portugal“ em que se possa organizar vários eventos culturais do movimento associativo. Desde as festas e festivais de folclore, à programação de artes plásticas, cinema, dança, literatura, teatro, ciclos de conferências ou divulgação de trabalhos dos investigadores que cada vez mais proliferam na lusodescendência.
Que esta união e solidariedade possa emanar ininterruptamente nas comunidades portugueses, em particular, no movimento associativo, de modo a que rapidamente se ultrapassem os desafios do seu futuro próximo. E que esta seja a centelha que nos guie nestes tempos conturbados no rumo da alegria, da saúde e de um próspero ano novo.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor