Uma das questões que se têm colocado nesta pandemia de COVID-19 é sobre como as crianças espalham a doença. Investigadores do Children’s National Hospital, Washington, DC, EUA, decidiram melhorar a compreensão sobre quanto tempo demoram os pacientes pediátricos a eliminar o novo coronavírus dos seus sistemas e em momento começam a produzir anticorpos que funcionam contra o coronavírus. As conclusões do estudo publicado hoje, 3 de setembro, no Journal of Pediatrics, indicam que o coronavírus e os anticorpos podem coexistir nos pacientes jovens.
“Com a maioria dos vírus, quando se começa a detetar os anticorpos, deixa-se de detetar o vírus. Mas com COVID-19, estamos os dois estão presentes”, referiu Burak Bahar, autor principal do estudo e diretor de Informática de Laboratório no Children’s National. “Isso significa que as crianças ainda têm potencial para transmitir o vírus, mesmo quando os anticorpos são detetados.”
O investigador indicou também que na próxima fase da investigação vai ser testado se o vírus, que está presente ao lado dos anticorpos, pode ser transmitido a outras pessoas. Também permanece desconhecido se os anticorpos se correlacionam com a imunidade e por quanto tempo os anticorpos e a potencial proteção contra reinfeção duram.
O estudo também avaliou o momento da eliminação viral e da resposta imunológica, e descobriu que o tempo médio de positividade viral à negatividade, quando o vírus não pode mais ser detetado, foi de 25 dias. O tempo médio para a soropositividade, ou presença de anticorpos no sangue, foi de 18 dias, enquanto o tempo médio para atingir níveis adequados de anticorpos neutralizantes foi de 36 dias. Os anticorpos neutralizantes são importantes para proteger potencialmente uma pessoa contra a reinfeção do mesmo vírus.
Este estudo utilizou uma análise retrospetiva de 6.369 crianças testadas para SARS-CoV-2, o coronavírus que causa COVID-19, e 215 pacientes que foram submetidos a testes de anticorpos no Children’s National, entre 13 de março de 2020 e 21 de junho de 2020. Destes pacientes, 33 fizeram testes para o coronavírus e para anticorpos durante o curso da doença. Nove dos 33 mostraram a presença de anticorpos no sangue, ao mesmo tempo que posteriormente testaram positivo para o vírus.
Os investigadores descobriram que pacientes dos 6 aos 15 anos demoraram mais tempo para eliminar o vírus (mediana de 32 dias) em comparação com pacientes de 16 a 22 anos (mediana de 18 dias). As mulheres na faixa etária de 6 a 15 anos também demoraram mais para eliminar o vírus do que os homens (mediana de 44 dias para mulheres em comparação com mediana de 25,5 dias para homens).
Embora existam dados emergentes sobre este momento em adultos com COVID-19, há muito menos dados quando se trata da população pediátrica. As descobertas reunidas pelos investigadores e cientistas do Children’s National em todo o mundo são essenciais para ajudar a compreender o impacto único sobre as crianças e o seu papel na transmissão viral.
Burak Bahar indicou: “A conclusão é que não podemos baixar a guarda só porque uma criança tem anticorpos ou não apresenta mais sintomas”. Pelo que “o papel contínuo da boa higiene e do distanciamento social permanece crítico.”