A diarreia é o principal problema de saúde durante as viagens. Segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) a diarreia do viajante pode afetar até 50 por cento das pessoas que viajam para o estrangeiro e o principal fator de risco é o destino da viagem.
A diarreia do viajante é, na maioria dos casos, uma infeção gastrointestinal originada pela ingestão de água ou alimentos contaminados com microrganismos patogénicos que podem ser bactérias, vírus ou parasitas. O risco de contaminação está associado, sobretudo, a práticas de higiene menos adequadas na manipulação, preparação dos alimentos e tratamento de águas.
Estes microrganismos vão alterar a microbiota intestinal – conjunto de microrganismos que coloniza o nosso intestino e que tem um papel fundamental na nossa defesa, na nossa saúde e no bem-estar, protegendo-nos de infeções.
Os sintomas ocorrem de forma súbita, geralmente durante a viagem ou logo após o regresso. Consistem num aumento da frequência das dejeções com fezes líquidas acompanhadas de cólicas abdominais, náuseas, vómitos e por vezes febre e/ou sangue nas fezes. A maioria dos casos não são graves, duram 3 a 5 dias e não necessitam tratamento. O principal risco é a desidratação, especialmente em crianças, grávidas, idosos e doentes crónicos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) os destinos de maior risco são a Ásia, o Médio Oriente, a África e a América Latina. No entanto, este problema de saúde pode ocorrer mesmo nos países mais desenvolvidos se as condições de higiene, na preparação e confeção dos alimentos não forem rigorosas.
Para prevenir a diarreia do viajante deve-se ter cuidados de higiene pessoal, sendo aconselhável, principalmente:
- Lavar frequentemente as mãos;
- Beber ou lavar os dentes com água engarrafada ou fervida;
- Não comer alimentos crus;
- Os cubos de gelo devem ser feitos com água engarrafada ou fervida.
O diagnóstico é efetuado com base nos sintomas, mas nos casos de diarreia aguda acompanhada de febre e/ou sangue e na diarreia persistente é aconselhável realizar análises clínicas como o exame microbiológico e parasitológico das fezes, e o Estudo Funcional da Microbiota Intestinal com identificação dos Agentes Patogénicos, incluindo parasitas e vírus.
O tratamento baseia-se na hidratação, numa dieta adequada e na toma de antidiarreicos; no entanto, este não são indicados nos casos de diarreia com sangue e/ou febre. Os probióticos podem ajudar a reequilibrar a microbiota intestinal, criando assim condições desfavoráveis à multiplicação dos microrganismos patogénicos.
Vários estudos indicam que as pessoas infetadas com o novo coronavírus podem ter problemas digestivos, tais como diarreia ou dores de estômago, antes de apresentarem febre, tosse e dificuldades respiratórias. Se esta situação acontecer após estadia numa zona com elevado número de casos de COVID-19 é necessário estar atento aos sintomas e consultar o médico.
Autora: Vitória Rodrigues, microbiologista clínica