Os medicamentos glicocorticóides são amplamente utilizados no tratamento da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), mesmo não havendo evidências científicas incontestáveis da sua eficácia. A principal razão parece ser a inexistência de tratamento efetivo para pacientes com SDRA em ventiladores. Em que a taxa de mortalidade destes pacientes varia entre 30% a 40%.
A SDRA é frequentemente causada por uma infeção viral ou bacteriana, grave. Os interferons tipo I alfa e beta (IFNs) são proteínas sinalizadoras produzidas pelo corpo humano e são necessários no combate a infeções virais. Por esse motivo, os IFNs têm sido utilizados com sucesso no tratamento da SDRA em ensaios clínicos de fase inicial. No entanto, num ensaio clínico de fase posterior publicado recentemente (INTEREST), esse efeito não foi observado. Uma confirmação que se deu o resultado de um estudo internacional, que envolveu 300 pacientes em diferentes centros médicos.
Uma análise mais detalhada revelou que a maioria dos pacientes que participaram no estudo recebeu glucocorticoides além do IFN beta, que se mostrou extremamente prejudicial. A taxa de mortalidade dos pacientes tratados apenas com interferons foi de 10,6%, mas a adição de glicocorticóides aumentou a taxa de mortalidade para 39,7%.
Os glicocorticóides inibem a sinalização do interferon e aumentam a mortalidade.
No Laboratório de Investigação MediCity da Universidade de Turku, na Finlândia, os grupos de investigação do académico, Sirpa Jalkanen e da investigadora Maija Hollmén, investigaram o que causou esse aumento abrupto nas taxas de mortalidade.
Os investigadores demonstraram em culturas de células e tecidos que os glicocorticóides inibem a sinalização de IFN e impedem que o interferon próprio e o administrado do corpo lute contra a doença.
“Esta é provavelmente a observação mais importante para salvar vidas humanas que fiz em minha carreira. Depois de superarmos a imensa deceção causada pelos resultados do ensaio INTEREST, tivemos a certeza de que tinha que haver uma explicação – e agora temos”, referiu Sirpa Jalkanen.
Os resultados são extremamente importantes, especialmente durante a atual pandemia, pois a doença de COVID-19 incapacita a produção de IFN do organismo. A Organização Mundial da Saúde já proibiu o uso de glicocorticóides no tratamento da COVID-19.