Prémio António Champalimaud de Visão 2016 foi atribuído aos cientistas Christine Holt, Carol Mason, John Flanagan e Carla Shatz, devido a avanços na ciência que permitem compreender a relação entre os olhos e o cérebro.
A cerimónia de entrega do prémio, que vai já na décima edição, foi presidida por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República. Um Prémio que é anual e no valor de 1 milhão de euros.
A investigação premiada diz respeito à “ligação entre aquilo que se vê e os mecanismos do cérebro. Mecanismos que remetem para o processo das imagens”. O conhecimento desenvolvido pelos cientistas poderá levar a que “muitas das doenças da visão, que estavam diretamente associadas aos mecanismos neurológicos, possam a partir de agora ser percebidas e tratadas”.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu, em discurso, que “o assinalável avanço protagonizado por estes quatro cientistas vem possibilitar o tratamento, no futuro, de muitos e diferentes distúrbios da visão através das vias neurológicas”, e acrescentou: “Estamos perante uma verdadeira revolução nos padrões conhecidos da ciência e nas consequentes abordagens terapêuticas”.
O Prémio António Champalimaud de Visão constitui a primeira realização consolidada da Fundação Champalimaud, referiu Leonor Beleza, Presidente da Fundação, e lembrou que “em outubro de 2006 o prémio era lançado no Palácio presidencial em Nova Deli, na presença do então Presidente da União Indiana”, e todos os anos o prémio é atribuído e os resultados da sua ação são visíveis.
Leonor Beleza lembrou porque é que a Fundação escolheu atribuir o prémio à visão: “Porque há uma distância imensa entre a alegria, o privilégio e as vantagens de podermos ver, por um lado, e por outro, a tristeza, a discriminação e os perigos de um mundo que não tem formas nem tem cores. É porque há muitas pessoas no mundo que não podem ver. Não podem ver porque a natureza, uma doença, um acidente ou outro qualquer fator lhes tirou essa capacidade”.
O prémio existe, acrescentou Leonor Beleza, “porque a ciência, o conhecimento atual, ainda não sabe evitar ou combater todas as formas de cegueira. Ainda há muitos cegos que a ciência não tem capacidade de evitar”.
Mas existem outras razões para o prémio ser destinado à visão, “não porque a ciência não a pode ajudar, mas porque a medicina e as técnicas conhecidas não chegam a todos. Porque simplesmente as pessoas não sabem que há remédio para a sua situação, porque estão demasiado longe de médicos e de hospitais, porque são pobres ou porque vivem em locais de conflito”.
“A falta de visão que resulta da pobreza, do conflito ou da ignorância, arrasta ela própria a pobreza, a insegurança e até a morte”, esclarece a Presidente da Fundação. A esta cegueira, que a ciência e a medicina atuais poderiam resolver, designa por ‘cegueira evitável’, “porque atinge de forma brutal e desproporcionada as zonas mais pobres no mundo. A doença seleciona pela negativa os pobres, e a cegueira perturba a vida das pessoas, das famílias e das comunidades de forma brutal”.
O prémio associa “quem não vê, porque não sabemos tratar a cegueira, e quem não vê, porque não consegue chegar a quem a poderia tratar”, indica Leonor Beleza, ou seja, “o prémio associa o conhecimento e a capacidade de o usar, a ciência e a medicina, o investigador e o profissional de saúde”.
Para a Presidente da Fundação Champalimaud os cientistas agora premiados são “heróis da ciência porque têm vindo a desvendar o funcionamento do nosso cérebro na sua relação com os nossos olhos. Como é que entre as células que temos nos dois olhos e as células que existem no nosso cérebro se processam de forma altamente organizada as conexões que nos permitem perceber o que vemos”.
Mas também “usar essa informação e reagir para que seja espacialmente apropriada, explicando como é que está organizado nos nossos cérebros o sistema visual”.
Os quatro cientistas “abriram novas avenidas de conhecimento, e depois novas esperanças para todos os que por acidente ou doença perderam o domínio das conexões preciosas entre as células da retina e os neurónios da parte superior do cérebro”.
Leonor Beleza lembrou que Christine Holt, Carol Mason, John Flanagan e Carla Shatz são neurocientistas e que “a neurociência é uma das duas áreas que privilegiamos nas escolhas que fizemos na Fundação Champalimaud. Uma das áreas que investigamos. Há assim um cruzamento, desta vez, entre o nosso Prémio de Visão e uma das nossas áreas privilegiadas de investigação a que se dedicam muitos dos nossos cientistas que aqui trabalham”.