Rompem os maiori que chegados de Hawaiki dançam entre duas alas de naturais ovarenses e outros naturais das regiões próximas. Não fosse a ausência das tatuagens, que faz parte da cultura do povo maori, e nos imaginaríamos a viajar no tempo num encontro com uma das mais ricas culturas da Polinésia. A ideia com que a Escola de Samba Charanguinha abriu o Desfile do Carnaval de Ovar de 2020 teve o seu mérito, ao transportar para o Carnaval a cultura de um povo longínquo.
Em Ovar a celebração do Carnaval é considerada uma das mais antigas em Portugal. Um carnaval que tem assimilado influências ao longo do tempo e que hoje apresenta uma visão alargada a temas que vão muito para além das fronteiras do país. Uma imaginação, talvez própria dos Vareiros que lhe é dada pela proximidade ao mar.
O grupo carnavalesco “Catitas” lembrou a importância da arqueologia e o ritmo brasileiro uma dinâmica em que a procura do saber do passado pode ser vivida com a alegria do carnaval.
Um exército expedicionário “marchando” sob a sua bandeira vermelha, amarela e preta foi protagonizado pelo grupo carnavalesco “Vampiros”. Mas as batalhas não são travadas apenas pelos exércitos como demonstraram as “Melindrosas” que também há espaço para “Sonhar, acreditar e vencer”, em que os Reis e as Rainhas podem existir pela qualidade de trabalho e empenho de qualquer um ou de qualquer grupo.
As “Pindéricas” trouxeram o seu “Toiro lindo”, com vestes e danças a condizer, a que se seguiu a “Fiesta” dos “mexicanos” do grupo “Xaxas”.
Muito aplaudida esteve a Escola de Samba “Juventude Vareira” que mostrou as estrelas de um circo que é todos os anos o Carnaval de Ovar. Um circo que a todos enche de alegria, seja qual for a idade.
As “Zuzucas” com o seu “currupiu”, rolando, rolando, deram a vez aos “Marroquinos” com as máquinas voadoras de Leonardo da Vinci. As “Barrulhentas” trouxeram o ambiente “Na Bahia” e a “Magia” chegou com o grupo carnavalesco “Marados”, numa altura em que já havia a “Juventude Vareira” descalça a dar “ar” aos pés para novas jornadas.
Com a produção e realização dos “Não Precisa” o filme “O grande assalto ao expresso da Tijosa” decorre ao longo da Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro. Vestidos à época todas as personagens mostraram ter um papel em cena e as ações decorrerem a um ritmo próprio do efeito tempo versus espaço.
A escola de Samba Kan-Kans levou-nos para “A era dos Deus” romanos e de seguida surgem os “Haka Xuva” pelo grupo carnavalesco “Pierrot’s” com a mascara, escudo e arma de arremesso a condizer.
Com os “Bailarinos” ou a “supercaligragili” veio o ritmo, beleza e harmonia que mostrou porque é que mais de 25 mil visitantes encheram as bancadas e todos os espaços que ladearam o desfile.
Sorte ou azar? Os dados foram lançados pelo grupo “Hippies” e a cadeia é um possível lugar para recompor as ideias. A seguir ao negro do azar surgem as “Joanas do Arco da Velha”, ou melhor “Um espanto de Joanas”, com muita beleza, ritmo e cor. Mas o néctar chega com os “Carrucas” que “Elas vinh’um e pelo caminho n’um ficar ‘um”. Sim o trabalho parece dar alegria, ou será o néctar?
A “Costa de Prata” ou voz de “ouro” para “Uma ópera a céu aberto” pode ter várias personagens de várias idades e várias cores. Com mais de 60 anos de existência o grupo carnavalesco “Condores” trouxe a “Cu-zinha da Maria” onde não faltou o bacalhau e o presunto. E depois de tão bons produtos chegaram os “Levados do Diabo” num cenário “Algures para além do Arco-iris”.
É tempo de despertar, e para isso talvez um bom café possa ajudar. As “Palhacinhas” dão-nos a “Rota do Café”. Uma rota com paisagens ritmadas que todos pretendem percorrer. Mas é com o grupo “Pinguins” que chegamos ao Saloon num Pinguim Expresso, onde a animação é dada ao piano e violino, e os xerifes atentos exercitam-se na imposição da ordem.
O último grupo a desfilar, passadas mais de 4 horas e meia da dança dos “maiori”, rompem os “Garimpeiros”, agora “limpa-chaminés” com o lema “Karma!! nunsafuligem!”. No ar a fuligem era muita, negra e espessa, e mesmo a atividade frenética dos “limpa-chaminés” parece que em nada contribuiu para deixar ar limpo para o Rei e a Rainha que chegavam. Mas mesmo com a pesada idade e o longo percurso os Reis não deixaram de manifestar o seu apreço pelos seus súbitos que os aguardavam ao longo de toda a avenida.