A excessiva utilização de herbicidas, em particular do glifosato, é uma das más práticas agrícolas que se instalou em Portugal. Uma prática que reduz o contributo das ervas na fixação de carbono no solo, que aumenta a erosão, polui o solo, a água, os alimentos, e afeta a saúde das pessoas.
Mas as más práticas têm vindo a que sobrepor-se às antigas, mas muito necessárias, práticas de adubação verde ou enrelvamento (cover crops), mesmo nas culturas permanentes arbóreas onde é mais fácil de o fazer.
A Plataforma Transgénicos Fora (PTF) indicou: “Em Portugal temos ainda a agravante de que a aplicação de herbicidas em geral e de glifosato em particular, terem subsídios agroambientais, ainda que indiretamente pelas medidas da “produção integrada” ou da “sementeira direta”, em clara contradição com os objetivos ambientais destas medidas!“
Existem soluções eficazes para os problemas atuais, esclareceu a PTF, e por basta aplicá-las em larga escala para evitar e/ou superar os erros já cometidos. Veja-se o caso das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) responsáveis pelas alterações climáticas. “Fala-se da urgência de reduzir, a todo o custo, as emissões para travar este flagelo mas ninguém fala da possibilidade de o reverter através da agricultura”.
“Estamos finalmente perante um discurso político, a nível europeu e nacional, que coloca a preservação do ambiente no topo das prioridades. Mas as palavras só por si são insuficientes”, indicou a PTF, e acrescentou: “Se queremos concretizar as mudanças preconizadas é necessário que a palavra e a ação estejam em sincronia, fechando o hiato que as tem separado e gerado o desconcerto do mundo”.
Para a PTF em Portugal, tal como na Europa, os solos agrícolas são cada vez mais pobres em matéria orgânica, não conseguem sequestrar o carbono (retirada de CO2 da atmosfera e armazenamento nas plantas e no solo) e, por isso, há um balanço negativo entre as emissões de GEE e a fixação de carbono. A perda de carbono ocorre também quando há erosão do solo, problema grave entre nós, com mais de 30% dos solos de Portugal continental degradados e mais de 60% em risco de desertificação. E o excesso de lavouras (mobilização) também não ajuda, seja pela maior mineralização do carbono orgânico do solo, seja pelo aumento do risco de erosão. As queimas e as queimadas também transformam carbono orgânico em CO2 e por isso devem ser substituídas pelo destroçamento das ramagens deixando-as no solo (mulching), ou pelo pastoreio.
Ora estes são problemas com soluções conhecidas. Sabe-se que o aumento de 1% de matéria orgânica (húmus) no solo equivale a cerca de 30 toneladas de carbono sequestrado o que, com boas práticas agrícolas, pode ser conseguido em 10 anos. No caso de abarcar toda a superfície agrícola utilizada nacional (cerca de 3.5 milhões de hectares) é possível fixar cerca de 105 milhões de toneladas de carbono.
Para além da aplicação de herbicidas ser excluída dos subsídios pelas medidas agroambientais, a campanha “Agroambientais sem glifosato/herbicidas” tem como objetivos alargar o leque destas medidas para a redução de outros pesticidas, e promover a biodiversidade, envolvendo toda a sociedade portuguesa uma vez que a agricultura é uma atividade basilar que toca a todos. A PTF aconselha o “Guia de boas práticas agrícolas para reduzir emissões, fixar carbono, e eliminar aplicação de herbicidas” da autoria de Eng.º Agrónomo Jorge Ferreira.
Esporão – um exemplo em Portugal
A PTF dá como exemplo, do uso de boas práticas agrícolas, a empresa Esporão, que indicou “tem um percurso na mudança de práticas agrícolas”, que “com cerca de 702 ha de vinha, olival, pomar e horta abandonou o uso de glifosato e de qualquer tipo de herbicidas por volta de 2010. Iniciou nessa altura a conversão para a agricultura biológica tendo obtido a certificação do azeite e do vinho, ambos já no mercado nacional e internacional”.