O percurso expositivo do Palácio Nacional da Pena apresenta no final de 2019 diversos motivos de interesse. A nova museografia da Sala de Fumo apresenta o mobiliário original, que tinha sido retirado em 1939. Esta reposição permite que, pela primeira vez em 80 anos, os visitantes possam ver esta divisão da Palácio como se apresentava no tempo de D. Fernando II. Monarca responsável pela edificação do Palácio.
Na Sala de Jantar e na Copa foi reconstituída a vivência palaciana do reinado de D. Carlos I e de D. Amélia, com destaque para a mesa, que exibe a configuração e os objetos utilizados nesse período. Por sua vez os aposentos utilizados pelo rei D. Carlos I: Gabinete, Quarto de Cama e Casa de Banho, foram objeto de um restauro integral e a peças organizadas de acordo com a disposição que existia na fase final da monarquia.
Passados 80 anos, o mobiliário adquirido por D. Fernando II, em 1866, à empresa de Lisboa, Barbosa e Costa, volta a ocupar o seu lugar na Sala de Fumo, agora restaurada. O novo arranjo museográfico permite dar a compreender e a imaginar o modo como esta dependência, decorada com base nos conceitos de simetria, beleza, informalidade, conforto e funcionalidade, era utilizada pelo rei e pelos seus convidados.
Na Sala do Fumo o conjunto em madeira de carvalho foi restaurado e estofado com um tecido de algodão que reconstitui o têxtil original e que também foi aplicado nos reposteiros. Na altura, estes tecidos com motivos florais e aves ainda invocavam o imaginário oriental, apesar de já serem fabricados na Europa. Os divãs com almofadas convidam à posição reclinada e as cadeiras de fumar, sem braços, destinavam-se a ser utilizadas numa posição pouco convencional: o utilizador sentar-se-ia com as pernas dispostas de ambos os lados do espaldar e as costas da cadeira serviam de apoio aos cotovelos, em vez de encosto. Os braços de todas as peças apresentam pequenas gavetas forradas a zinco, com a função de cinzeiro. No seu conjunto, a Sala de Fumo é profundamente representativa do gosto decorativo empregue por D. Fernando II no Palácio da Pena durante a década de 1860.
Na Sala de Jantar e na Copa, o trabalho de reconstituição histórica foca-se no aspeto destes compartimentos durante o reinado de D. Carlos I e de D. Amélia, geração que habitou este Palácio entre 1890 e 1910. A mesa, elemento central deste espaço, volta a exibir o centro, composto por três cestos em porcelana da China enfeitados com flores, à semelhança do que acontecia nesse tempo. O serviço de porcelana em exposição, personalizado com a coroa real, foi encomendado em Limoges (Haviland) durante este reinado. Os copos em cristal Baccarat são do mesmo período. A mesa está preparada para o serviço “à russa”, em que os pratos eram preparados nas mesas trinchantes de apoio e servidos individualmente a cada conviva, representando os hábitos daquela época. Neste tipo de serviço, era habitual a apresentação de um menu informando a sucessão de pratos. Como tal, foi disposta na mesa uma reprodução do menu da ceia servida neste Palácio em 20 de julho de 1900.
Os trabalhos de restauro levados a cabo nos aposentos ocupados pelo rei D. Carlos I durante as suas estadias no Palácio da Pena também já estão finalizados. A intervenção no Gabinete, no Quarto de Cama e na Casa de Banho compreendeu, não só, os revestimentos de parede, dos tetos e dos pavimentos, mas também todas peças de arte e de mobiliário, tendo ficado concluída com a reconstituição dos estofos e das cortinas.
No Gabinete do rei, todas as peças foram dispostas de acordo com as informações recolhidas nos inventários históricos do Palácio e conforme é possível observar em fotografias do período da monarquia, com o objetivo de reproduzir com a maior fidelidade possível o aspeto desta sala durante o período em que era utilizada pela Família Real.
O Quarto de Cama evoca o aparato de um aposento de dormir Real e exibe diversas peças que pertenciam às coleções que D. Carlos I detinha no Palácio das Necessidades, em Lisboa. Neste espaço, foram também colocadas duas telas e um pastel da autoria do monarca que, a par das telas inacabadas do Gabinete, são representativas da sua obra pictórica.
Estas intervenções representaram um investimento global de cerca de 178 mil euros e incluíram, igualmente, o restauro dos espaços, bem como a revisão geral das redes de infraestruturas, para garantir as melhores condições de segurança e de conservação do património, nomeadamente, através da beneficiação dos sistemas de iluminação e de deteção de incêndios.
A Parques de Sintra – Monte da Lua indicou que o projeto global que vem sendo desenvolvido nos interiores do Palácio Nacional da Pena tem como principal objetivo a reconstituição histórica dos ambientes domésticos que marcaram a vivência da Família Real no monumento.
“Os trabalhos são executados com base em fontes documentais e iconográficas. Paralelamente, são acompanhados por uma profunda investigação histórica e potenciados pela colaboração com reputados mestres e fabricantes do mercado nacional e internacional”, indicou Parques de Sintra.