O Parlamento Europeu (PE) atribuiu hoje o Prémio Sakharov a Ilham Tohti, um ativista uigure que se encontra detido na China. Para receber o prémio esteve em Estrasburgo, Jewher Ilham, filha de Ilham Tohti.
“Com o seu ativismo, Ilham Tohti conseguiu dar voz ao povo uigure”, referiu David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, na cerimónia realizada no hemiciclo de Estrasburgo, e acrescentou que Ilham Tohti “tem trabalhado nos últimos 20 anos para promover o diálogo e a compreensão mútua entre os uigures e outros chineses”.
“Este devia ser um momento de felicidade, em que se celebra a liberdade de expressão. Em vez disso, é um dia triste. Mais uma vez, esta cadeira está vazia, porque, no mundo em que vivemos, exercer a nossa liberdade de expressão nem sempre significa ser livre”, afirmou David Sassoli.
Jewher Ilham, filha do ativista, em Estrasburgo
O presidente do PE apelou à libertação imediata e incondicional de Ilham Tohti e de “muitos outros laureados com o Prémio Sakharov que se encontram atualmente na prisão e que são perseguidos por defenderem os direitos humanos e as liberdades fundamentais”.
Após ter recebido o prémio, Jewher Ilham disse: “É uma honra estar hoje no Parlamento Europeu a receber o Prémio Sakharov em nome do meu pai. Estou grata por ter a possibilidade de contar a sua história, porque ele não o pode fazer pessoalmente. Para ser sincera, não sei onde o meu pai está hoje. A última vez que a minha família teve notícias dele foi em 2017″.
Ilham Tohti é um ativista dos direitos humanos, professor de economia e defensor dos direitos da minoria uigure na China. Durante mais de duas décadas trabalhou incansavelmente para promover o diálogo e a compreensão entre uigures e chineses. Em resultado do seu ativismo, foi condenado, em setembro de 2014, a uma pena de prisão perpétua após um julgamento-fantoche de dois dias.
Os uigures não têm liberdade na China
Ilham Tohti foi também autor do Uyghur Online, um sítio Web que discute questões uigures. Na plataforma, criticou regularmente a exclusão da população uigure chinesa do desenvolvimento do país e incentivou uma maior sensibilização para o estatuto e o tratamento da comunidade uigure na sociedade chinesa. Por estas ações, Ilham Tohti foi declarado um “separatista” pelo Estado chinês e, subsequentemente, condenado a uma pena de prisão perpétua.
“Não há atualmente liberdade para os uigures na China, quer seja na escola, em público ou mesmo em casa”, afirmou a filha do vencedor do Prémio Sakharov, e acrescentou que o pai, como a maioria dos uigures, “foi rotulado de extremista violento, com uma doença que precisa de ser curada e uma mente que precisa de ser lavada”.
“Foi sob este falso rótulo de extremismo que o governo colocou um milhão de pessoas – provavelmente mais – “em campos de reeducação ou de concentração”, onde os uigures são obrigados a abandonar a sua religião, língua e cultura, onde as pessoas são torturadas e algumas morreram”.
Jewher Ilham pediu aos eurodeputados que apoiem a causa do seu pai: “Pergunto aos que se encontram nesta sala e aos que estão a ouvir, acham que existe um problema na forma como o governo chinês trata a população uigure? Se sim, trabalhem por favor para que seja encontrada uma solução”.
Parlamento Europeu e a falta de direitos humanos na China
O PE referiu que nos últimos anos os uigures sofreram uma repressão sem paralelo na China, devido à sua identidade étnica e às suas crenças religiosas únicas. Desde abril de 2017, mais de um milhão de uigures foram detidos arbitrariamente numa rede de campos de internamento, onde são forçados a renunciar à sua identidade étnica e às suas convicções religiosas e a jurar fidelidade ao governo chinês.
“O caso de Ilham Tohti coloca questões cruciais a nível internacional e preocupações ligadas ao respeito pelos direitos humanos: a promoção de valores islâmicos moderados face à repressão religiosa estatal; os esforços para abrir o diálogo entre uma minoria muçulmana e uma população maioritariamente não muçulmana; e a supressão da dissidência não violenta por um Estado autoritário”, referiu o Parlamento Europeu.
Todos os anos, desde 1988, o PE atribui o Prémio Sakharov (assim chamado em homenagem ao dissidente soviético Andrei Sakharov) a pessoas ou organizações que se destacam na defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.