“Pátria” é o monólogo de um homem só, velho e exausto. Um homem que narra a sua história de refugiado num país estrangeiro, sobre como aí chegou e acabou preso, denunciado por um crime que não cometeu. Um texto vertiginoso que perpetua a tendência-chave da estética de Bernardo Carvalho – nome cimeiro da literatura contemporânea brasileira –, sempre propenso a narradores solitários e ensimesmados.
A peça que Manuel Tur estreia de forma absoluta assume contornos surpreendentes. O espetáculo vai estar em cena nos dias 29 e 30 de novembro, na Casa das Artes de Famalicão, vai ser editado em livro pela Húmus.
Em “Pátria”, o homem acusado – interpretado por Pedro Almendra – regressa ao seu apartamento, velho e exausto, depois de anos no cárcere, e decide encarnar uma personagem para a vizinha do outro lado da rua, a quem atribui a denúncia que destruiu a sua vida. Interpretando um louco, conta a sua história como ser expatriado e injustiçado, até que um estrangeiro lhe bate à porta para contradizê-lo. “Talvez o velho refugiado não seja quem anuncia. Talvez nem refugiado seja. Velho sequer. E o próprio estrangeiro não venha a ser tão estrangeiro assim”.
O espetáculo destinado a maiores de 14 anos é uma coprodução da “A Turma” e a “Casa das Artes de Famalicão”, com música original de João Hasselberg. Os figurinos estão a cargo de Anita Gonçalves e a cenografia é de Ana Gormicho. O desenho de luz é da responsabilidade de Cárin Geada e o desenho de som de Joel Azevedo, e conta com o apoio dramatúrgico de Gil Fesch.
Os bilhetes podem ser adquiridos por oito euros. Após a estreia em Vila Nova de Famalicão, “Pátria” é a vez de Vila Nova de Gaia, a ter lugar no Armazém 22 nos dias 5, 6 e 7 de dezembro, e a seguir Lisboa no Teatro Taborda nos dias 8 e 9 de fevereiro de 2020.
Bernardo Carvalho um escritor internacionalizado em mais de dez línguas
Bernardo Carvalho já publicou mais de uma dezena de obras, tendo ganho diversos prémios, como o Portugal Telecom e o Machado de Assis, por “Nove Noites”; e o Jabuti, por “Mongólia”, em 2003, e por “Reprodução”, em 2014.
Os livros de Bernardo Carvalho estão traduzidos em mais de dez línguas. O dramaturgo brasileiro não é estranho à escrita para teatro, sendo que escreveu para o grupo experimental Teatro da Vertigem as peças “BR-3”, encenada em barcos, nas pontes e nas margens do rio Tietê, em São Paulo, e na baía de Guanabara, em 2006; e “Dire ce qu’on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas”, Bruxelas, 2014, com produção do Théâtre National, apresentada na seleção oficial do Festival de Avignon do mesmo ano e publicada pelas edições Les Solitaires Intempestifs.