“O senhor Presidente da República costuma dizer com frequência que os portugueses quando querem são os melhores do mundo. O senhor Presidente da República, que me perdoe o atrevimento, não há qualquer razão para os portugueses serem melhores que os finlandeses, os nepaleses ou os quenianos. Mas tenho uma boa notícia para dar. Também não precisamos de ser melhores. Para quem ainda acredita numa ideia de comunidade os portugueses são aqueles que estão ao nosso lado e isso conta, conta muito”, afirmou João Miguel Tavares no seu discurso, no Dia de Portugal.
“Partilhamos uma língua, um país com uma estabilidade de séculos sem divisões, e é uma pena que por vezes pareçamos cansados de nós próprios, tivemos história a mais, agora temos história a menos. Passamos da exaltação heroica e primária do nosso passado, no tempo do Estado Novo, para acabarmos com o receio de usar a palavra ‘Descobrimentos’, simplificamos a história de forma infantil”.
E João Miguel Tavares continuou referindo: “No século dezasseis Luís de Camões já cantava os seus amores por uma escrava de pele negra, tão bela e tão negra que até a neve desejava mudar de cor. Para desarrumar os estereótipos talvez precisemos de um pouco menos de Lusíadas e um pouco mais de lírica camoniana.
Menos exaltação patriótica e mais paixão por cada ser humano, eis uma fórmula que me parece adequada aos tempos em que vivemos. Sendo já poucos os que acreditam nas grandes narrativas continuamos a acreditar nas pessoas que temos ao nosso lado. E esse é o caminho para a identificação possível dos portugueses com Portugal.
Sozinhos somos ninguém. A velha pergunta bíblica. Acaso sou eu o guarda do meu irmão? Tem uma única resposta numa sociedade decente. Sim és!
Num país algo desencantado o grande desafio está em tentar desenvolver um sentimento de pertença que vá além dos prodígios do futebol”.