Um grande estudo multicêntrico refuta as sugestões anteriores de que medicamentos antivirais para o tratamento da hepatite C podem levar a uma maior recorrência do cancro do fígado e conclui que os doentes são beneficiados se forem tratados à hepatite C.
Investigadores do Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas estudaram os registos de pacientes que foram tratados com sucesso ao cancro do fígado em 31 centros médicos na América do Norte, e compararam com os que receberam ou não antivirais de ação direta para hepatite C. O estudo concluiu que não houve diferença significativa numa recorrência de cancro do fígado entre os dois grupos, bem como não houve diferença na agressividade do cancro nos pacientes que apresentaram recidiva.
“O nosso estudo foi inspirado num estudo unicêntrico de investigadores espanhóis em 2016. Esse estudo ganhou muita atenção e despertou o medo de tratar pacientes com cancro do fígado para a hepatite C”, referiu Amit Singal, professor associado de Medicina Interna e Diretor Médico do Programa Tumor do Fígado. Agora “com base nesses novos dados, os profissionais de saúde podem sentir-se seguros de que é seguro tratar a hepatite C nesses pacientes e permitir que eles recebam os benefícios conhecidos da terapia contra hepatite C.”
Cerca de 3,2 milhões de indivíduos nos EUA, a grande maioria deles “baby boomers” têm infeção crónica por hepatite C. Muitos desses indivíduos lutam com inflamação do fígado e deficiente função hepática, bem como cirrose ou cicatrização do tecido hepático. Desde 2013 que há medicamentos antivirais eficazes disponíveis para tratar a infeção por hepatite C.
A infeção crónica por hepatite C também é uma das principais causas de cancro do fígado. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, metade de todos os indivíduos com cancro de fígado têm infeção crónica por hepatite C.
A taxa de novos casos de cancro do fígado tem vindo a aumentar constantemente nas últimas décadas, e o estado do Texas, nos EUA, possui uma das mais elevadas altas de ocorrência de cancro do fígado.
Quando o cancro do fígado é diagnosticado precocemente, pode ser efetivamente tratado por cirurgia, ablação ou radioterapia. Muitas vezes, os doentes com cancro do fígado têm o seu tumor removido com sucesso, mas a infeção crónica por hepatite C permanece e continua a comprometer ainda mais a função hepática.
Neste estudo, já publicado na revista Gastroenterology, verificou-se que 42% dos sobreviventes a cancro do fígado que foram tratados com Antivirais de Ação Direta (AAD) experimentaram uma recorrência do cancro, em comparação com 59% dos pacientes que não foram tratados com antivirais.
Os resultados do estudo “sugerem que o uso de terapias AAD é seguro e potencialmente benéfico para os pacientes infetados com hepatite C com história de cancro do fígado”, referiu Amit Singal.