Um novo estudo, já publicado na revista “American Journal of Clinical Nutrition” (AJCN), mostra que os compostos bioativos existentes no cacau podem manter o coração saudável. Mas os dois tipos de bioativos: flavonoides e procianidinas comportam-se de maneira diferente no corpo.
O estudo permitiu concluir que adultos saudáveis ao fim de um mês de consumo diário de um extrato enriquecido em flavonoides e procianidinas verificaram melhorias na função dos vasos sanguíneos, juntamente com melhorias na pressão arterial, rigidez arterial e no colesterol.
As pessoas que apenas consumiram o extrato enriquecido com procianidina verificaram apenas uma redução no colesterol total. O estudo mostrou uma relação entre as melhorias na função dos vasos sanguíneos, pressão arterial e rigidez arterial, e a ingestão de flavonoides, mas não em relação à ingestão de procianidinas mesmo em quantidade elevada.
Os bioativos são compostos alimentares que podem ser benéficos para a saúde, nomeadamente os flavonoides e procianidinas presentes no cacau o que tem atraído, nos últimos anos, a atenção da comunidade científica.
Metodologia da investigação
Os dois grupos de compostos também se encontrados em maçãs, uvas, bagas e alguns cereais e leguminosas. Neste estudo os investigadores utilizaram extratos de cacau como modelo de alimentos que contêm flavonoides e procianidinas.
Vários estudos já tinham demonstraram que o consumo diário de flavonoides e procianidinas leva a uma melhor pressão arterial, menor colesterol e a vasos sanguíneos com melhor flexibilidade.
Agora o novo estudo de uma equipa internacional, incluindo cientistas da Mars, Incorporated veio dar resposta de saber em que medida os flavonoides e procianidinas contribuem, respetivamente, para os benefícios já observados e se eles agem sinergicamente ou não.
Os investigadores recorreram a um estudo aleatório e duplo-cego com um mês de duração, envolvendo 45 adultos do sexo masculino saudáveis e divididos em três grupos, em que cada grupo tomou diferentes quantidades de flavonoides e procianidinas para determinar o efeito de cada um em nível de benefícios cardiovasculares.
Compostos bioativos têm função diferente
Um grupo de participantes consumiu um extrato de cacau contendo 130 mg de um flavonoides e 560 mg de procianidinas. Um segundo grupo tomou cápsulas de extrato de cacau numa quantidade quase equivalente de 540 mg de procianidinas, mas apenas de 20 mg de flavonoides. O terceiro grupo tomou cápsulas de placebo sem flavonoides e sem procianidinas, mas nutricionalmente equivalentes às cápsulas consumidas pelos outros dois grupos. Todas as cápsulas foram combinadas com quantidades de metilxantina (cafeína e teobromina).
Christian Heiss, um dos investigadores envolvidos no estudo, referiu: “Conseguimos confirmar as descobertas anteriores relacionadas aos flavonoides do cacau, e ganhamos novos insights sobre as respetivas contribuições de flavonoides e procianidinas no contexto dos seus efeitos cardiovasculares em humanos. Descobrimos que os flavonoides, especialmente – epicatequina, representam os bioativos principais responsáveis pelos efeitos benéficos vasculares observados após a ingestão dos flavonoide do cacau”.
“Apenas o grupo que tomou 130 mg de (-)- epicatequina experimentou os melhores efeitos benéficos e de longo prazo relacionados à ingestão de flavonoide e procianidina”, ou seja, melhorias na capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos, e a longo prazo melhorias na pressão arterial e na rigidez arterial. Os grupos que tomaram placebo ou cápsulas de baixa -epicatequina não sofreram alterações significativas em nenhum dos benefícios.
“Apesar dos procianidinas não ter efeito direto na melhoria da dilatação dos vasos sanguíneos, pressão arterial ou rigidez arterial, a sua ingestão teve um efeito benéfico sobre os lipídios no sangue”, acrescentou o investigador. “Ambos os grupos que tomaram cápsulas que continham procianidinas tiveram uma redução no colesterol total em comparação com o grupo de controlo que apenas consumiu um placebo”.
O estudo também analisou o que acontece com os flavonoides e procianidinas após serem consumidos e entrarem no corpo. Os resultados confirmaram as descobertas de investigações anteriores, mostrando que os flavonoides e procianidinas são degradados pela microbiota do intestino humano, resultando na formação dos compostos de gama-Valerolactonas.
Embora os gama-Valerolactonas tenham sido propostos como bioativos, potencialmente envolvidos na mediação dos benefícios cardiovasculares observados após a ingestão de flavonoides e procianidinas, o estudo não forneceu evidências que corroborassem essa noção.
Os gama-Valerolactonas parecem não estar diretamente envolvidos na mediação de melhorias na dilatação dos vasos sanguíneos, pressão sanguínea e rigidez vascular e, portanto, parecem não ser bioativas no contexto desses efeitos cardiovasculares. Os procianidinas são mais propensos a ter efeitos indiretos importantes ao proteger os flavonoides dentro de um alimento durante o processamento dos alimentos, bem como no trato gastrointestinal, da degradação e inativação.
“Em comparação com outros bioativos, já sabemos muito sobre os flavonoides de cacau, mas este estudo fornece novos e importantes insights”, referiu o investigador. “É fundamental entender como estes bioativos interagem uns com os outros e com o corpo humano, a fim de criar uma base abrangente para recomendações baseadas em evidências sobre a quantidade desses compostos, ou dos alimentos que os contêm, devem ser consumidos pelas pessoas para manter um boa saúde e reduzir do risco de doença.”