O cancro da mama é a neoplasia mais frequente no sexo feminino. Constituem fatores de risco para o desenvolvimento de cancro da mama o sexo, a idade, a história familiar, a história reprodutiva (como a menarca precoce, a menopausa tardia e a nuliparidade) e síndromes hereditários como as mutações dos genes BRCA1 e BRCA2.
A implementação de programas de rastreio trouxe uma redução na mortalidade de cerca de 40%, ao permitir um diagnóstico em fases mais precoces da doença.
Infelizmente, mesmo quando diagnosticado em estádio inicial, estima-se que até 30 por cento das mulheres com cancro da mama irão evoluir, alguns meses ou mesmo vários anos depois, para a doença metastática, que ocorre quando o tumor, a partir do tecido de origem, é capaz de colonizar outros órgãos como por exemplo o osso, o fígado, o pulmão ou o cérebro. Como existem muitas células tumorais na doente e provavelmente com caraterísticas muito diferentes umas das outras, torna-se muito difícil encontrar um tratamento que elimine todas as células. Por isso, o cancro da mama metastático não tem cura.
No entanto, cada doente com cancro da mama metastático/avançado é única e, consequentemente, a história natural da doença pode variar de meses a (cada vez mais) anos de vida.
Os principais fatores de risco associados ao cancro metastático são o tamanho do tumor à data do diagnóstico, a existência ou não de invasão nos gânglios linfáticos mais próximos, o grau de diferenciação do tumor, a existência de um elevado índice proliferativo nas células do cancro da mama e a ausência de recetores hormonais.
Apesar da doença não ter cura, tem existido uma grande evolução no sentido de aumentar a eficácia dos tratamentos, estendendo a sobrevivência a ponto de tornar a doença crónica, o que requer da parte dos clínicos a maior atenção aos efeitos secundários de cada tratamento, no intuito de aliar a qualidade de vida e o alívio dos sintomas ao tempo de vida.
A classificação molecular dos tumores é feita de acordo com a expressão de recetores hormonais e de HER2 em quatro grupos principais, o que lhes confere valor prognóstico e preditivo de resposta aos tratamentos de quimioterapia, hormonoterapia e terapia dirigida a alvos concretos como o Her2, as ciclinas e o mTOR.
Um dos grandes desafios futuros será encontrar cada vez mais alvos terapêuticos e bloquear os mecanismos de resistência às terapêuticas, permitindo uma esperança de vida cada vez maior. O novo paradigma será portanto minimizar a toxicidade infligida pelos tratamentos, de modo a garantir a máxima qualidade de vida das mulheres e a sua integração plena nas famílias e na sociedade.
Um alerta a assinalar o Dia Nacional do Cancro da Mama, a 30 de outubro.
Autor: Rui Dinis, médico, diretor do Serviço de Oncologia do Hospital do Espírito Santo de Évora