Maria Helena de Castro Neves de Almeida contactou desde cedo com o universo artístico, tendo estudado Pintura na Escola Superior de Belas Artes, em Lisboa, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris e, em 1967, fez a sua primeira exposição individual de pintura na Galeria Buchholz. Esta consagrada artista plástica, nacional e internacionalmente morreu hoje, 26 de setembro de 2018, aos 84 anos de idade.
A sua reflexão sobre o suporte da arte é já visível na exposição na Galeria Buchholz, gesto que se prolongou ao longo dos mais de 50 anos de carreira artística. Helena Almeida soube romper com os limites físicos da pintura, confinada à tela, emprestando-lhe uma densidade que transgredia as fronteiras rígidas desse espaço altamente simbólico.
Helena Almeida, uma autora de uma obra multifacetada, sintonizada com as práticas artísticas mais avançadas da época, viria a centrar-se num território onde o seu próprio corpo é elemento nuclear.
O Ministério da Cultura escreveu que a singularidade do olhar de Helena Almeida sobre a criação e o processo artístico sustenta-se ainda num comprometimento direto com o seu próprio corpo, exposto na dupla condição biográfica e ficcional.
Na relação com o corpo, Helena Almeida fixava também um olhar sobre a mulher através da história da arte, e em particular na história da arte portuguesa, procurando inscrever uma memória que antecedia e prolongava o que nela escolhia fixar.
A artista usou a fotografia, que se tornou o centro da sua expressão artística a partir dos anos 1990, e vincou ainda uma preocupação com a passagem do tempo, expressa num trabalho onde o corpo passa a ser a primeira tela a ser habitada. Apagar e descobrir, um processo que lhe permitia ampliar a visão sobre o objeto artístico enquanto obra em contínuo processo de construção.
Presente nas mais importantes coleções públicas e privadas, o seu trabalho nunca deixou de ser estudado, exposto e considerado com um dos mais importantes do século XX português, assim provam as várias exposições antológicas em Santiago de Compostela e Nova Iorque (2000), Madrid (2008) ou Paris (2016).
A pertinência e atualidade do seu trabalho provam-se ainda pela recente inauguração em Madrid, na Galeria Helga de Averlar, e em Londres, na Tate Modern. Também o Centro Cultural de Belém e a Fundação de Serralves dedicaram importantes exposições a uma artista que representou Portugal na Bienal de São Paulo (1979), na Bienal de Veneza (1982 e 2004) e na Bienal de Sidney (2004).