Uma inovadora aplicação (app) para smartphone (app) pode ajudar no rastreio da fibrilação auricular, indicam os resultados DIGITAL-AF divulgados o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia.
Pieter Vandervoort, investigador principal da Universidade de Hasselt, na Bélgica, referiu: “A maioria das pessoas tem um smartphone com uma câmara e é tudo o que precisa para detetar fibrilação auricular. Uma maneira barata de rastrear milhares de pessoas para uma condição de saúde, que se está a tornar mais prevalente e pode ter sérias consequências, se não for tratada.”
A fibrilação auricular é o distúrbio mais comum do ritmo cardíaco. Um em cada quatro adultos de meia-idade na Europa e nos EUA desenvolve fibrilação auricular. Esta condição de saúde causa entre 20% a 30% de todos os derrames e aumenta o risco de morte prematura, mas as perspetivas de vida melhoram drasticamente com uma terapia de anticoagulação oral.
A fibrilação auricular não diagnosticada é comum e muitos pacientes permanecem sem tratamento. Um rastreio é recomendado para pessoas com mais de 65 anos, mas apresenta-se com dificuldades devido à falta de recursos, à logística e aos tempos envolvidos.
No estudo DIGITAL-AF os especialistas examinaram a viabilidade e a eficácia do rastreio da fibrilação auricular com uma app para smartphone. A app foi disponibilizada gratuitamente através de um publicação local, e em 48 horas, 12.328 adultos já tinham feito o download e a inscrição no estudo.
Os participantes foram instruídos a usar o smartphone para medir seu ritmo cardíaco, duas vezes por dia, durante uma semana. Se tivessem sintomas como palpitações cardíacas, falta de ar ou fadiga, foram aconselhados a inseri-los na aplicação. O sistema funciona fixando o dedo indicador esquerdo em frente à câmara do smartphone durante um minuto, durante esse tempo a fotopletismografia mede o ritmo cardíaco.
As medidas do ritmo cardíaco foram automaticamente classificadas como ritmo regular, possível fibrilação auricular, outro ritmo irregular ou qualidade insuficiente. As medições indicando fibrilação auricular ou outros ritmos irregulares foram revistas por especialistas médicos experientes na análise de sinais de fotopletismografia, e sob a supervisão de cardiologistas.
Pieter Vandervoort esclareceu que todos os participantes no estudo receberam um relatório que é gerado automaticamente no smarphone com uma cópia dos traços do ritmo cardíaco e de uma interpretação. Os que apresentaram fibrilação auricular ou outros ritmos irregulares foram aconselhados a consultar um médico. Quatro meses depois, todos os participantes que tiveram pelo menos uma medição que mostrava fibrilação auricular receberam um questionário de acompanhamento por e-mail sobre as ações que haviam tomado como resultado do programa de rastreamento.
A idade média da população que participou no rastreio foi de 50 anos e 58% eram do sexo masculino. Do total de 9.889 participantes, 80% registaram ritmo regular (sinusal), 136, ou seja 1,1%, registaram fibrilação auricular, 2.111 correspondendo a 17%, tinham outros ritmos irregulares e 191, ou seja, 2% tinham medidas de qualidade insuficiente para análise.
A idade média do grupo que apresentou fibrilação auricular foi de 63 anos, e sete em cada dez eram homens. Três quartos dos participantes não apresentavam sintomas. Quanto ao tipo de fibrilação auricular verificou-se que em 38 pacientes, ou seja 28%, foi “persistente ou permanente” e detetada na primeira medição, e em 98, 72% foi “paroxística”, destes em 13 casos foi detetada na primeira medição.
O questionário foi preenchido por 100 dos 136 pacientes com fibrilação auricular, e mostrou que 40 pacientes tiveram um novo diagnóstico, destes 21, ou 53%, consultaram um médico para confirmação. Sessenta pacientes já tinham sido previamente diagnosticados, dos quais 17, ou seja 28%, tiveram seu tratamento ajustado após consultar um médico.
“A verificação dos diagnósticos por técnicos médicos mostrou que as interpretações da aplicação foram muito precisas, sugerindo que esta etapa poderia ser significativamente reduzida e possivelmente omitida num programa de rastreio. O estudo mostrou que aproximadamente 225 pessoas precisavam de ser submetidas a um rastreio para detetar um novo diagnóstico de fibrilação auricular. Esse é um retorno aceitável, dado o baixo custo” referiu Pieter Vandervoort.
Para o investigador os smartphones estão a tornar-se populares em grupos de idade mais avançada, que são mais suscetíveis à fibrilação auricular, o que mostra que “esta tecnologia tem um potencial real para encontrar pessoas com fibrilação auricular, previamente desconhecida, para que possam ser tratadas.”