No Mosteiro da Batalha a parede entre a igreja e o claustro e a parede exterior da Abadia é uma estrutura constituída por duas camadas ou faces de aproximadamente 0,50m de pedra e um miolo de cerca de 1,60m de enchimento.
Estes dados foram agora conhecidos e são o resultado de investigação de uma equipa de cientistas da Universidade de Aveiro (UA). Para estes estudos de geofísica os investigadores usaram um georadar que aplicaram às paredes.
Os investigadores analisaram as oito colunas dentro da igreja mais próximas da entrada poente do Mosteiro, e para isso usaram um método semelhante à TAC. Com esta análise os investigadores verificaram que a estrutura externa é em pedra e que ocupa menos de metade da área da coluna, sendo a restante ocupada com enchimento.
Quer no caso da parede como das colunas, os investigadores já possuíam uma ideia de como seria a estrutura, mas só agora foi possível essa confirmação. De referir, no entanto, que no caso das colunas, os investigadores não eram unânimes quanto ao que agora se confirmou.
“O terreno por baixo do lajeado da igreja foi objeto de um estudo 3D”, refere a UA em comunicado. Neste estudo os investigadores utilizaram métodos de resistividade elétrica, aplicando um dispositivo especialmente desenvolvido para este trabalho.
O dispositivo usado de análise do terreno envolveu a colocação de 50 elétrodos ligados a um resistivímetro e ao desenvolvimento de um algoritmo inovador para a comutação automática dos pontos de injeção e medida de corrente, bem como uma nova metodologia de verificação da qualidade de sinal, explicou Manuel Senos Matias, citado em comunicado pela UA.
Manuel Matias, do Departamento de Geociências da UA e coordenador do estudo referiu ainda que cada elétrodo era constituído por um copo em PVC com lama saturada em água no interior onde é cravado uma estaca de aço. Toda a operação foi desenhada para não infligir qualquer dano ao património edificado.
Os investigadores puderam constatar a existência de uma área de maior resistividade no centro da abadia. Este aumento de resistividade pode ser interpretado como resultado da compactação decorrente do peso da estrutura do edifício e/ou à acumulação de caboco das fundações do Mosteiro, indica a UA.
Para confirmar a existência de túmulos obriga a escavações
Com recurso ao georadar, os investigadores verificaram que o terreno por baixo da capela sul e à entrada da Abadia revela manchas de geometria retangular com orientação este-oeste que podem corresponder a túmulos, explicou Manuel Matias, e acrescentou: “Está preparado o ‘terreno’ para os arqueólogos. Para saber mais, será necessário escavar”.
A partir da utilização de métodos sísmicos de refração, “a equipa de investigadores estima que o nível freático esteja entre os 4,00m e os 4,30m de profundidade, o que está de acordo com as estimativas a partir de observações em poços nas proximidades, e a rocha firme entre 5 a 6 metros”
O Mosteiro da Batalha, ou Mosteiro de Santa Maria da Vitória, é repouso dos filhos do rei João I de Portugal e de Filipa de Lencastre, ou da ‘ínclita geração’ como lhe chamou Camões, Está classificado como Panteão Nacional, como a Igreja de Santa Cruz em Coimbra, e os Jerónimos e a Santa Engrácia em Lisboa.
O Mosteiro da Batalha, como muitos outros Mosteiros, encerra segredos, que apesar de ao longo do tempo ser estudado, continua a despertar o interesse de investigadores em saberem o que esconde por baixo das lajes, no interior das grossas paredes ou qual a estrutura das colunas que suportam os enormes vãos.
Numa perspetiva técnica e científica os investigadores também procuram um melhor conhecimento sobre o terreno em que assenta o Mosteiro da Batalha e respostas para questões como: Como são constituídas e como foram construídas as paredes? Ou com são as colunas por dentro?
O Mosteiro da Batalha é para além de um ícone histórico nacional uma notável obra de engenharia do gótico português. Engenheiros, arqueólogos e historiadores vêm estudando a obra ao longo dos anos, mas agora geofísicos da Universidade de Aveiro aplicaram métodos inovadores e não invasivos para darem do Mosteiro novo conhecimento.