Investigadores do Centro Nacional da Investigação Cientifica de Paris (CNRS, da designação em francês), da Universidade de Oregon e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, do inglês) estudaram, pela primeira vez, como os americanos veem os Veículos Sem Condutor (VSC) e como os usariam.
Os investigadores ficaram surpreendidos quando o grupo de americanos envolvidos no estudo manifestou preferência pelos VSC que “sacrificavam” os seus passageiros para salvar um maior número de peões. Mas a maioria dos americanos do estudo mostrou-se menos disposta a adquirir um VSC se o governo legislasse que os VSC tinham de salvar o máximo de pessoas.
A legislação poderia, assim, ter um efeito paradoxal, dado que ao impedir que os cidadãos optassem por veículos autónomos, que são mais seguros do que os veículos atuais, iria custar mais vidas.
É anunciada uma revolução com a chegada dos veículos autónomos sem condutor nos próximos anos. Os VSC vão alterar toda a mobilidade, dado que a condução irá ser mais suave, conduzirá a menores consumos de energia, com a utilização generalizada o fluxo de tráfego vai melhorar e, acima de tudo, este tipo de carro terá um impacto significativo no número de acidentes.
Os Veículos Sem Condutor vão ter de escolher entre dois tipos de acidentes.
O Veículo Sem Condutor pode ter de decidir, numa fração de segundo, se salva a vida do seu passageiro ou a de um grupo de peões. É conhecida que a probabilidade de tal situação é muito pequena. Mas estamos preparados para entrar num carro programado para nos matar quando o nosso sacrifício puder salvar mais de uma vida?
Dois psicólogos e um cientista em computação, respetivamente do CNRS, da Universidade de Oregon e do MIT, estudaram a questão. O estudo, que se encontra publicado na revista cientifica Science, envolveu 6 inquéritos a cerca de 2000 cidadãos americanos.
Primeiro resultado que surpreendeu os investigadores foi que mais de 75% dos inquiridos indicaram estar de acordo que o VSC, em situação extrema, deve sacrificar o passageiro para salvar um maior número de pessoas.
Esta preferência é relativamente alta, uma vez que atingiu médias de 85 numa escala de 0 a 100. E mesmo em situações extremas quando o passageiro é transportado no VSC com os seus filhos, a média foi de 50 em 100.
Os cientistas quiseram também saber se os americanos tinham intenções de compra correspondentes com as suas convicções morais. Mas isso não se confirmou. Os inquiridos revelaram que eram favoráveis a que outras pessoas comprassem veículos autónomos que protegessem o maior número de pessoas, mas no seu caso preferiam adquirir um carro que os protegesse.
Outra das questões dos cientistas era saber se neste contexto uma regulamentação do governo mudaria a decisão dos americanos inquiridos. No entanto, as pessoas manifestaram ser de opinião contrária a que o governo torne obrigatório que os VSC possam optar por salvar o maior número de pessoas.
Com o governo a determinar o tipo de decisão dos VSC, as pessoas envolvidas no estudo indicaram estar muito menos dispostas a comprar estes veículos. Então, impor que um VSC tome a decisão de salvar o maior número de pessoas poderia ter o efeito paradoxal de custar mais vidas, ao impedir a adoção pelos cidadãos desta tecnologia mais segura.
Para que os utilizadores possam explorar diferentes cenários, que podem vir a ser colocados aos VSC, os investigadores desenvolveram um portal na Internet onde são expostas diversas situações. O objetivo dos cientistas é identificar e estudar as situações em que as pessoas encontram mais dificuldade em tomar uma decisão.