Uma equipa internacional liderada por Vincenzo Bonifati do Departamento de Genética Clínica do Erasmus MC Rotterdam, descobriu pela primeira vez variantes num gene, denominado por LRP10, em pacientes com formas familiares da doença de Parkinson, doença de Parkinson e Demência, e Demência com corpos de Lewy.
Da equipa internacional fez parte uma equipa de investigadores do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Instituto de Medicina Molecular (iMM) coordenada por Leonor Correia Guedes. A equipa portuguesa, inserida no Grupo de Investigação de Joaquim Ferreira, no iMM, colaborou na descoberta destas novas alterações genéticas associadas ao aparecimento da Doença de Parkinson, da Demência Associada à Doença de Parkinson e da Demência de Corpos de Lewy.
O estudo da descoberta do gene encontra-se já publicado na revista The Lancet Neurology. Uma descoberta que “abre uma nova janela sobre os mecanismos moleculares destas doenças neurodegenerativas comuns e pode abrir caminho para a identificação de novos biomarcadores e novas terapias modificadoras da doença” referiu Vincenzo Bonifati.
A doença de Parkinson e a Demência são doenças neurodegenerativas comuns e devastadoras, e apenas estão disponíveis medicamentos sintomáticos, não existindo terapias curativas ou modificadoras da doença. Nas próximas décadas a prevalência destas doenças deve aumentar significativamente devido ao envelhecimento da população no mundo. Doenças que representam, e vão representar ainda mais um enorme ónus médico e económico para a sociedade.
Os investigadores identificaram a primeira variante do gene LRP10, usando estudos clínicos e genéticos numa grande família, com várias pessoas afetadas pela doença de Parkinson, e detetaram variantes adicionais de LRP10 associadas à doença em pacientes de doença de Parkinson, Demência associada à doença de Parkinson ou Demência com corpos de Lewy.
Também foram realizados estudos neuropatológicos em três pacientes, cada um deles carregando diferentes variantes de LRP10 associadas à doença, e mostraram haver uma acumulação da proteína alfa-sinucleína, característica patológica destas doenças. Entre os doentes em que se identificou esta mutação genética encontra-se uma família portuguesa com vários membros afetados.
Por último, os investigadores realizaram estudos in vitro utilizando modelos celulares neuronais obtidos por células estaminais pluripotentes humanas, para analisar a proteína codificada pelo gene LRP10, verificar a localização na célula e o efeito das variantes encontradas nos pacientes.
Os investigadores indicaram que se sabe muito pouco sobre a função normal do LRP10, e até agora não se sabia o papel desse gene no desenvolvimento da doença de Parkinson e da Demência com corpos de Lewy. Para os investigadores o conhecimento sobre a função celular da proteína LRP10 e suas vias de sinalização pode oferecer novas e cruciais perceções sobre os mecanismos moleculares das doenças neurodegenerativas comuns e, assim preparar o caminho para a identificação de novos biomarcadores e novos alvos para terapias modificadoras de doenças.