O cancro da próstata afeta, na Europa, um em cada sete homens. Enquanto a maioria dos casos é tratada com procedimentos cirúrgicos e terapia hormonal, em cerca de 70.000 casos o crescimento do tumor continua, mesmo após a castração cirúrgica. O cancro da próstata é resistente à castração, e neste caso é necessária uma intervenção quimioterápica.
Enzima CYP17A1 como alvo terapêutico
As opções atuais de tratamento incluem o medicamento abiraterona, em que o alvo é a enzima CYP17A1, que produz um precursor dos andrógenos. No entanto, a abiraterona tem fortes efeitos colaterais e a extensão de vida obtida com o tratamento é de apenas alguns meses.
Uma equipa de investigadores, liderada por Amit Pandey, do Departamento de Pediatria, do Inselspital de Berna, e do Departamento de investigação Biomédica da Universidade de Berna, em colaboração com o Instituto de investigação Vall d’Hebron, em Barcelona, descobriu uma mutação genética que danifica a enzima CYP17A1 que controla a produção de andrógenos.
Os resultados da investigação já estão publicados na revista científica ‘Pharmaceuticals’, e indicam que a descoberta pode levar a uma abordagem terapêutica mais eficiente para o tratamento do cancro da próstata resistente à castração.
“A abiraterona, que é um inibidor da enzima CYP17A1, tem sido um dos medicamentos usados contra o cancro da próstata avançado. Mas a resistência ao medicamento é ainda um grande problema. Ter uma terapia de segunda linha, como é sugerido no estudo, pode ser uma maneira eficaz de controlar a progressão da doença do cancro da próstata” referiu Mark A Rubin, diretor do Departamento de Investigação Biomédicas e do Cancro da Próstata.
Mutação genética previne a produção de andrógenos
Amit Pandey, que em Berna, tem vindo a investigar como os medicamentos contra o cancro da próstata funcionam, descobriu que o medicamento abiraterona muda muitas vias metabólicas. Por outro lado investigadores em Barcelona, liderados por Laura Audi, identificaram um paciente que tinha uma perda do precursor de andrógeno. Após exames laboratoriais genéticos e bioquímicos, a equipa espanhola pode confirmar uma nova mutação no gene CYP17A1. Levando Amit Pandey a afirmar: “Eu percebi imediatamente que isso não era uma mutação comum, pois está localizada no centro da proteína CYP17A1, onde os hormônios sexuais se ligam”.
Outros estudos em Berna mostraram que os hormônios sexuais não podiam fixar-se adequadamente no centro da enzima defeituosa. Estudos bioquímicos em Berna também conduziram a descobrir que o gene mutado produz uma proteína CYP17A1 defeituosa que é responsável pela produção do precursor do andrógeno desidroepiandrosterona (DHEA).
Amit Pandey considera que as descobertas alcançadas no estudo podem e devem levar ao desenvolvimento de melhores medicamentos para o tratamento do cancro da próstata e da síndrome dos ovários policísticos.
Trabalho de equipa internacional bem-sucedido em medicina translacional
A investigação realizada é um exemplo de medicina translacional mostrando a colaboração entre os clínicos num hospital e as descobertas em laboratório. “Isto não poderia ter sido alcançado por nenhuma das equipas sozinha”, enfatizou a Amit Pandey. O grupo de Laura Audi, em Barcelona, proporcionou décadas de experiência e competência em genética e patologia e os laboratórios de Christa E Flück e Amit V Pandey, no Hospital Infantil da Universidade de Berna, usaram sua experiência em produção avançada de proteína recombinante, biologia molecular de esteroides sexuais e bioinformática para Compreender as complexidades da produção de andrógenos em humanos.
Para Amit Pandey “estes resultados de investigação exemplificam o que pode ser alcançado com uma estreita colaboração entre equipas multidisciplinares.”