Júlio Pomar, natural de Lisboa, onde nasceu a 10 de janeiro de 1926, morreu, hoje, dia 22 de maio, aos 92 anos. Júlio Pomar frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto.
Em 1942, participou pela primeira vez numa mostra de grupo, em Lisboa, e em 1947 apresentou a primeira exposição individual, no Porto. As obras de Júlio Pomar são reconhecidas por serem neorrealistas, “em que a arte assume a forma de protesto social.” A oposição ao regime de Salazar levou-o à prisão, “ao lado de Mário Soares, de quem era amigo.”
De notar que “os frescos que Pomar pintara para o Cinema Batalha, no Porto, seriam eliminados já depois da inauguração, pela polícia política.”
A Câmara Municipal de Lisboa (CML), indicou em comunicado que “lamenta profundamente o desaparecimento do pintor Júlio Pomar”. De entre o percurso do pintor destaca, também, a exposição ‘Tauromachies’, em Paris, cidade onde Júlio Pomar viveu a partir de 1963, por razões pessoais.
Júlio Pomar evolui, a partir dessa fase para obras de “‘um novo figurativismo’, sob influência da pintura do pós-guerra”. A participação numa mostra dedicada ao quadro de Ingres, Le Bain Turc, pelo Museu do Louvre, em 1971, é também uma marca a destacar no percurso, e “sete anos mais tarde, a Fundação Gulbenkian promoveu em Lisboa a sua primeira exposição retrospetiva.
“‘Tigres’ (Galerie de Bellechasse e Galeria 111, 1981 e 1982) e ‘Mascarados de Pirenópolis’ (Galeria 111, ARCO, Madrid, 1988) estão também entre as obras mais paradigmáticas de uma multifacetada carreira, onde ao longo de sete décadas pontuam o protesto, o erotismo, o fado e a tourada, a literatura, a mitologia e os retratos”, indicou a CML.
Por convite do Ministério da Cultura francês pintou o retrato de Lévi-Strauss, mais tarde pintou também o retrato do ex-Presidente da República, Mário Soares, “um dos mais originais da galeria presidencial, pelo estilo e informalidade.”
Foi o autor da intervenção artística na estação de metro Alto dos Moinhos, em Lisboa, onde juntou Camões, Bocage, Almada e Pessoa. “O conjunto de desenhos, nomeadamente o de Pessoa, icónico pelo seu simbolismo, foi depois integrado no passaporte português.”
Mas além da poesia, também a música ocupou um lugar na obra de Júlio Pomar das últimas décadas, particularmente os intérpretes do fado, como Carlos do Carmo, Mariza ou Alfredo Marceneiro.
“Júlio Pomar instituiu, em 2004, uma Fundação com o seu nome, reunindo uma coleção com cerca de 400 obras suas em pintura, escultura, desenho, gravura, serigrafia e artes decorativas, que depositou no museu monográfico dedicado à sua obra: o Atelier-Museu Júlio Pomar, fundado pela Câmara Municipal de Lisboa e aberto ao público em 2013, num edifício do século XVII alvo de uma reabilitação da autoria do arquiteto Siza Vieira, amigo do pintor.”
A partir da criação do Atelier-Museu, o artista colaborou nele ativamente, “vendo realizadas, até à data, várias exposições em torno da sua obra e, mais recentemente, uma programação artística que tem procurado alargar os âmbitos de leitura do seu trabalho, revelando novas ligações do artista com a contemporaneidade – é o caso das exposições com Rui Chafes, Julião Sarmento e Pedro Cabrita Reis.”
A CML lembrou que “Júlio Pomar foi distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa. É também o único pintor português que, em vida, teve uma obra ‘Classificada’ pelo Estado português: o ‘Almoço do Trolha’, recentemente exibida no Museu. Em 2016, o artista foi distinguido com a Medalha Municipal de Honra, pela Câmara de Lisboa.”