A Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC) realiza em Lisboa a terceira edição do Congresso Internacional sobre investigação em cancro. O 3º ASPIC International Congress decorre, a 10 e 11 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, em que participam especialistas nacionais e internacionais das várias áreas de especialização e investigação em cancro.
O congresso vai permitir mostrar o que de melhor se faz em investigação na área do cancro em Portugal, como no mundo. Para Luís Costa, presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro, “há muito valor em Portugal, em termos de investigação, há grupos cujos trabalhos têm reconhecimento internacional. E há também portugueses que foram trabalhar para o estrangeiro e que são neste momento líderes incontestáveis na sua área de investigação.”
Para Luís Costa, que também é diretor do Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, falta em Portugal “uma estrutura capaz de dar resposta às boas ideias nacionais”, e ajuda para que “se criem as condições mentais para se perceber que precisamos de uma cultura de investigação.”
Falta uma cultura de investigação em Portugal.
“A investigação académica merecia claramente ser muito mais apoiada”, defendeu Luís Costa, e acrescentou, mas falta também ao País “uma cultura de investigação”, ou seja, é necessário compreender que a investigação não é apenas sinónimo de trabalho em laboratório, pois as pessoas “quando estão a trabalhar, no seu dia-a-dia, na clínica, podem colaborar na investigação.”
Para o especialista “há investigação muito importante e de ponta, que resulta simplesmente de olhar para os registos oncológicos. Este conceito multidisciplinar da investigação também falta no nosso país e queremos que a ASPIC seja uma oportunidade para um novo olhar sobre a investigação. Um palco para a investigação séria, independentemente de ser mais básica, mais translacional ou de outro tipo.”
A investigação académica em Portugal nunca terá possibilidade de sucesso se não tiver dimensão.
A falta de uma estrutura em Portugal que permita que as boas ideias e com perspetivas de sucesso sejam apoiadas, leva que “a investigação académica em Portugal nunca terá possibilidade de sucesso se não tiver dimensão”, e Luís Costa explicou: “Dimensão não é ser superior a Portugal. É ter dimensão nacional, como acontece, por exemplo, com a Áustria, que tem oito milhões de habitantes e consegue fazer estudos que têm, do ponto de vista académico, impacto incontestável a nível internacional. Isto porque as pessoas se organizam, porque colaboram, porque cooperam.”
Neste contexto é “preciso desenvolver uma cultura de colaboração em Portugal e tem que haver, por parte de quem está neste momento nas condições de direção e poder, a criação da tal infraestrutura capaz de dar pelo menos o apoio formal. Em Portugal não existe ainda o conceito de estudo académico como investimento para o conhecimento”.
Atualmente os oncologistas estão interessados em temas mais profundos dentro da ciência oncológica, ou seja, “não querem só saber como se avalia um doente cujo cancro está a progredir, mas querem saber porque é que o cancro progrediu, saber de que maneira podemos procurar novas alternativas para compreender o que se passa com os doentes”, esclareceu Luís Costa.
Na linha de ação dos oncologistas o programa do congresso inclui cinco sessões temáticas, sobre temas como: ‘O Tumor e o Hospedeiro’; ‘Tumor e Metabolismo’ ou ‘Invasão e Metastização’, com o enfoque nas descobertas e inovações na luta contra o cancro.
O cancro está a ser curado … mas os estilos de vida das pessoas não ajudam.
“O cancro está a ser curado, passo a passo. Temos mais sobrevida em cancros em que as pessoas morriam muito mais cedo, estamos a curar muito mais pessoas… A questão é que há cada vez mais cancro e nós temos uma luta que não é só contra a doença, é contra o relógio do tempo”, uma luta que Luís Costa acredita que ainda vai ser longa.
Para o oncologista os estilos de vida também não ajudam, dado que “as pessoas comem demais, fazem pouco exercício físico, expõem-se a agentes cancerígenos por vezes até desconhecidos”. Pelo que é “ilusório dizer que vamos resolver o problema do cancro de uma só vez. O que queremos é que se torne uma doença cada vez mais crónica e que seja cada vez mais possível curar muitos casos.”