Estudo desenvolvido na Universidade do Minho (UMinho) em parceria com Universidade Thomas Jefferson, nos EUA, permitiu identificar circuito neuronal que prioriza acasalamento ao sono, ou seja, na hora de escolher, a opção é de acasalar em vez de descansar, secundarizando uma das principais necessidades vitais – o dormir.
Esta decisão deve-se a um circuito neuronal, agora identificado pelos cientistas, que intensifica a vontade de acasalamento, secundarizando uma das principais necessidades vitais – dormir.
O trabalho de investigação baseou-se na mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), um importante modelo para perceber o funcionamento básico do cérebro humano. “As principais características do sono também estão conservadas neste animal”, explicou Daniel Machado, cientista do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da UMinho, que liderou o estudo.
A UMinho explicou que “o sono é incompatível com qualquer outro comportamento, podendo ser modulado por diferentes estados motivacionais, quer por necessidade vital, como comer, quer por interesse pessoal, como ir ao cinema. Perante estes dilemas, cabe ao cérebro coordenar o ‘conflito’ entre a ‘vontade de dormir’ e outros comportamentos essenciais ou relevantes.”
No estudo, Daniel Machado focou-se no ‘conflito’ entre o sono e o acasalamento em moscas-da-fruta, mas que o investigador indicou que também pode ser observado em seres humanos.
Os resultados do estudo mostram, pela primeira vez, que o cérebro da mosca macho ativa ‘amplificadores’ neuronais que priorizam o acasalamento. O cientista esclareceu: “Os circuitos cerebrais que coordenam o seu comportamento sexual despertam neurónios que intensificam a importância de acasalar. Este reforço do sinal sexual permite a supressão momentânea da necessidade de dormir, mantendo o macho desperto para cortejar a fêmea.”
A descoberta levou a um modelo inovador baseado na amplificação de estímulos para ‘ajudar’ o animal a decidir em situações de conflito entre motivações incompatíveis. A descoberta e o modelo podem no futuro vir a contribuir para conceber terapias capazes de atenuar doenças em que diferentes estados motivacionais podem estar descoordenados, como a dependência a drogas ou álcool, ansiedade, depressão e distúrbios do sono.
Os resultados do estudo podem “simplesmente ajudar a perceber o que motiva as pessoas a abdicarem de dormir a favor de outras atividades”, A UMinho lembrou que “os contributos da investigação baseada na Drosophila já foram reconhecidos com vários prémios Nobel, incluindo o da Medicina 2017, atribuído aos americanos Michael Young, Michael Rosbash e Jeffrey Hall.”