Na migração do hemisfério norte para Sul, bandos de pássaros são atraídos pela poluição luminosa artificial das áreas urbanas, que constituem uma armadilha ecológica.
Uma equipa de investigadores liderados por Jeff Buler, do Departamento de Entomologia e Ecologia da Vida Selvagem da Universidade de Delaware (UD), utilizou 16 radares de vigilância meteorológica do nordeste dos Estados Unidos durante um período de sete anos para mapear as distribuições de aves migratórias durante os movimentos no outono. Os resultados da investigação foram já publicados na revista científica Ecology Letters.
A maioria dos pássaros que migram nos EUA deixam seus locais à noite, e a equipa de investigadores tirou várias fotografias dos pássaros no momento da partida.
Jeff Buler referiu que “pouco depois do pôr-do-sol todos os pássaros decolam-se em voos bem sincronizados e aparecem como uma explosão repentina de reflexividade no radar”, e acrescentou: “Tomamos um registo fotográfico disso, o que nos permitiu mapear onde estavam e quais as densidades. Isto dá-nos uma imagem da distribuição no tereno”.
Os investigadores pretendiam conhecer quais fatores que dão forma às distribuições das aves e porque ocorrem em certas áreas.
Jeff Buler referiu: “Nós pensamos que a luz artificial pode ser um mecanismo de atração, porque sabemos que numa escala muito pequena, os pássaros são atraídos pela luz”, do mesmo modo como “os insetos são atraídos para uma luz de rua à noite, os pássaros também são atraídos para lugares com faróis ou projetores, como num complexo desportivo, especialmente quando a visibilidade é fraca.”
Os pássaros atraídos pelas luzes da cidade correm risco de morte quando da existência de edifícios altos. Jeff Buler referiu que em algumas cidades, como Toronto, existem programas ‘Lights Out’, em que as luzes são desligadas nos edifícios altos para impedir que os pássaros colidiam contra estes edifícios.
A equipa de investigadores analisou as distribuições dos pássaros na proximidade das áreas mais iluminadas do nordeste dos EUA, como Boston, Nova York, Filadélfia, Baltimore e Washington, D.C, e Jeff Buler referiu que “são grandes áreas metropolitanas muito brilhantes.”
O líder da equipa de investigadores referiu que a densidade de aves é maior à medida que se está mais aproximo das cidades. O efeito é de aproximadamente 200 quilómetros. “Estimamos que estas aves voadoras possam ver uma cidade no horizonte a várias centenas de quilómetros de distância.”
Os investigadores também descobriram que as áreas suburbanas, como as quintas e os parques da cidade, como o Fairmount Park, na Filadélfia, abrigam algumas das maiores densidades de aves no nordeste, e Jeff Buler referiu que “Fairmount Park tem maiores densidades de aves do que em Cape May, New Jersey, onde os observadores de pássaros costumam ver as aves a concentrar-se durante a migração.”
Quando os pássaros são atraídos para as cidades, procuram um habitat adequado, o que pode provocar preocupações do ponto de vista da conservação, pois muitas aves acumulam-se numa pequena área com recursos limitados e com maiores riscos de mortalidade.
O investigador referiu: “Uma das coisas que destacamos neste artigo é que podem haver consequências negativas para os pássaros serem atraídos para as cidades urbanas. Sabemos que há risco de colisão com os edifícios, colisão com os veículos e serem capturados pelos gatos, que são grandes predadores.”
“Os gatos domésticos podem ser a maior fonte antropogénica de mortalidade para as aves. Se as aves estão a ser atraídas para áreas fortemente desenvolvidas, pode estar a aumentar o risco de mortalidade por fontes antropogénicas, e os habitats vão ser esgotados muito mais rápido por causa da concorrência em diversas aves”, esclareceu o investigador.
Outra preocupação é a poluição luminosa criada nas cidades que tem vindo a aumentar nos últimos anos com o advento das luzes LED, que são muito mais brilhantes do que as luzes incandescentes foram substituídas.
“A transição da iluminação pública de incandescente para LED continua a aumentar e ao mesmo tempo cresce a poluição luminosa”, indicou Jeff Buler. “Se se pensar sobre isto de um ponto de vista evolutivo, para todos os animais selvagens, mamíferos e insetos e aves, então verifica-se que apenas foram expostos a esta poluição luminosa há menos de 200 anos. Ainda estão a adaptar-se à luz”.