Estudo de investigação do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), Portugal e da Indiana University (IU), EUA, veio mostrar que existe um estado de espírito específico associado a celebrações religiosas, e que este ‘estado amoroso’ pode influenciar a reprodução humana.
Uma equipa de investigação, liderada por Joana Gonçalves-Sá e Luís Rocha, investigadores do IGC, usando dados globais do Twitter e do Google Trends, revelou que são os fatores culturais, e não biológicos, como anteriormente se pensava, que estão por trás dos ciclos de reprodução.
Os investigadores explicaram que “nos países ocidentais do hemisfério Norte nascem mais bebés em setembro do que nos outros meses do ano”, pelo que “mais bebés são concebidos em dezembro”, o que indica “que a reprodução humana tem um padrão cíclico.”
“Até agora pensava-se que o pico nas conceções se devia a uma adaptação biológica aos dias curtos e frios de Inverno, uma vez que nos países do Norte o solstício de Inverno ocorre em Dezembro”, indicaram os investigadores. Contudo, esclareceram que “a inexistência de dados precisos de diferentes partes do mundo não permitia testar esta hipótese.”
Joana Gonçalves-Sá referiu que “é relativamente fácil encontrar registos de nascimento fiáveis em países ocidentais do hemisfério Norte, mas isso não é necessariamente verdade no resto do mundo”. Uma dificuldade que “tem enviesado as análises feitas, limitando-as a uma região e cultura, e condicionando fortemente o nosso conhecimento do mundo.”
No entanto, “hoje em dia toda a gente usa a Internet e as redes sociais, independentemente da sua localização ou cultura. Esta realidade está a gerar dados muito úteis para investigação”, explica a investigadora do IGC,
A equipa de investigação procurou seguir ao longo de uma década os estados de espírito e os comportamentos online de pessoas de diferentes países, tanto do hemisfério Norte como do Sul, e com diferentes tradições culturais, quer Cristãs quer Muçulmanas. Os investigadores descobriram que pesquisas online relacionadas com sexo seguiam um padrão cíclico que se correlacionava com um estado de espírito específico, tendencialmente ’amoroso’, detetado independentemente no Twitter.
Os investigadores descobriram que os padrões cíclicos eram mais semelhantes entre países que partilhavam a mesma tradição cultural do que entre países com a mesma localização geográfica. Países como a Austrália ou o Brasil tinham padrões semelhantes quando comparados com países do hemisfério Norte como Portugal, Alemanha ou EUA. Por outro lado, os padrões da Turquia ou do Egito diferem dos encontrados noutros países do hemisfério Norte, mas têm um comportamento online semelhante à Indonésia, um país Muçulmano do hemisfério Sul.
Luís Rocha, investigador do IGC e da IU, referiu: “Nós demonstrámos que, a nível mundial, existem picos de interesse sexual que coincidem com certas celebrações religiosas, levando a um aumento nas taxas de nascimento 9 meses depois. Uma vez que estas celebrações acontecem na mesma data tanto no hemisfério Norte como no Sul, pensamos que as tradições culturais, e não a geografia, são responsáveis por estes estados de espírito.”
Nos países Cristãos, esta “disposição para amar” é maior em torno do Natal, tal como as pesquisas online relacionadas com sexo, enquanto nos países Muçulmanos um comportamento semelhante surge durante as festividades religiosas do Eid-al-Fitr e Eid-al-Adha.
Joana Gonçalves-Sá esclareceu: “Os nossos resultados sugerem que os ciclos de reprodução humana dependem do estado de espírito coletivo das sociedades. O Natal e o Eid-al-Fitr são feriados religiosos orientados para a família, que geram nas pessoas um estado de espírito mais feliz e calmo, o que provavelmente resulta num maior interesse por sexo.”
“Este é um caso onde as redes sociais e dados de pesquisa online nos ajudaram a resolver uma questão que tem estado em debate no meio científico há muitos anos. Estes novos ‘macroscópios’ online ajudam-nos a olhar para a sociedade a uma grande escala, e isto vai mudar a forma como estudamos o comportamento humano”, esclareceu Luís Rocha.
O estudo já publicado na revista Scientific Reports foi desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, e na Indiana University, nos EUA, e comtou com a colaboração da Universidade de Wageningen, na Holanda. Uma investigação financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pelas Ações Marie Curie da União Europeia e pelo National Institutes of Health dos EUA.