As células estaminais aberrantes, que se dividem rapidamente, são uma importante fonte de cancro. Mas um novo estudo, publicado na revista Gastroenterology, mostra que as células maduras também desempenham um papel fundamental na iniciação do cancro, esta descoberta pode levar os cientistas a rever o conhecimento sobre a origem da doença.
Células maduras na origem de cancro
Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, nos EUA, descobriram que as células maduras têm a capacidade de voltar a comportar-se como células estaminais e a dividirem-se rapidamente. No entanto, quando as células maduras retornam a um estado semelhante a células estaminais, podem transportar todas as mutações acumuladas, predispondo algumas dessas células a desenvolverem lesões pré-cancerígenas.
Jason C. Mills, investigador e professor de medicina na Divisão de Gastroenterologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, referiu que “os cientistas focam muita atenção na compreensão do papel das células estaminais no desenvolvimento de cancro e não se focalizam nas células maduras”, mas “parece que quando as células maduras regressam para um estado de células estaminais, dividem-se rapidamente, e criam problemas que podem levar ao cancro”.
Descobertas em ratos e em células do estômago humano, também levantam questões sobre como as células cancerígenas podem evitar o tratamento.
A maioria das terapias contra o cancro tem como objetivo interromper o crescimento do cancro ao impedir que as células se dividam rapidamente. Tais tratamentos tipicamente atacam as células estaminais, mas não impedem necessariamente que células maduras voltem ao estado de células estaminais.
“As terapias contra o cancro visam as células estaminais porque se dividem muito, mas se as células maduras estão a ser recrutadas para tratar as lesões, essas terapias não vão resolver o problema real”, referiu Megan Radyk, primeira autora do estudo. “Se o cancro regressa, pode ser porque a terapia não atingiu as principais células maduras que adotaram comportamentos semelhantes a células estaminais. Isto pode levar ao desenvolvimento de lesões pré-cancerígenas e, potencialmente, ao cancro”.
Ao estudar ratos com lesões no revestimento do estômago, os investigadores bloquearam a capacidade de recrutamento de células estaminais ao estomago. Os investigadores concentraram-se no estômago, dado que a anatomia do estômago torna mais fácil distinguir células estaminais de células maduras que realizam tarefas específicas. Mesmo sem células estaminais, os ratos desenvolveram uma condição pré-cancerígena porque as células de estômago maduras passaram a um estado de células estaminais para curar a lesão.
Ao analisar espécimes de tecido de 10 pessoas com cancro de estômago, os investigadores descobriram evidências de que essas mesmas células maduras no estômago também haviam revertido para um estado de células estaminais e começaram a dividir-se rapidamente.
À procura de tratamento
O laboratório Mills está agora a trabalhar para identificar medicamentos que possam bloquear a condição pré-cancerígena, impedindo que as células maduras possam proliferar e dividir-se. O que “pode ser importante na prevenção de cancro, não apenas no estômago e no trato gastrointestinal, mas em todo o corpo”.