Na inauguração da ARCO Lisboa, Feira Internacional de Arte Contemporânea, Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), estabeleceu o círculo da Arte através da definição dos vértices de um quadrado enquanto vetores de Arte.
O MNE começou por referir que “não há nenhuma espécie de Arte sem o ato criador”. Uma obra de Arte, resultado de criação artística de uma “linguagem de criação, da gramática da criação e das intenções e práticas criativas”.
O valor de uma obra de Arte referiu o MNE, “depende da forma como as pessoas se apropriam dela, como a interpretam, como a fazem sua, como a veem, a mexem, como lhe tocam, como a incorporam nas suas mundividências”, mas também se desenvolve “no percurso que ela tem que percorrer para chegar a todos”.
No percurso valorativo da Arte “estão, também, os críticos, os formadores, os galeristas, os mediadores. Estão todos aqueles que definem o campo em que as obras de Arte fazem sentido”, e é neste campo “que as obras de Arte ganham dimensão”.
O campo da Arte, e neste caso a Arte contemporânea, vive do “encontro entre procuras e ofertas”, mediadas “por agentes especializados”, mas onde são necessárias “instituições que dão sentido ao mercado da Arte contemporânea”.
De entre as diversas instituições intervenientes no campo das Artes, Augusto Santos Silva, citou “as escolas, os museus, as fundações, os institutos públicos, os governos e as autarquias”, mas também citou o que designou por “turismos”, ou seja, esclareceu: “Tudo aquilo que permite dar consistência, dar coerência e sobretudo dar envergadura aos mercados das Artes”.
Definindo como um dos vértices do quadrado as instituições e os mercados, indicou que “a dinâmica dos sistemas de Arte contemporânea e feiras como a ARCO são momentos cruciais, são momentos cardinais dessa dinâmica de encontro entre os mercados e as instituições”.
O MNE continuou a definir os vértices do quadrado referindo que “os mercados e as instituições se territorializam” nas cidades. É nas cidades que “encontram as pessoas, os grupos, as economias, o turismo, as dinâmicas vivas, a natureza vibrante das cidades contemporâneas”.
Lisboa é um caso, enquanto cidade, vértice do quadrado. Lisboa surge “como cidade contemporânea, cosmopolita e vibrante, e quanto mais a Arte se aproxima desse pulsar urbano, vibrante, mais ganha na sua própria dimensão artística”.
O quarto vértice do percurso da Arte é dado pela dimensão global e universal em que a Arte se contextualiza, ou seja no caminho da internacionalização. Uma internacionalização em todas as dimensões, ou melhor dizendo, na globalização. Globalização que Augusto Santos Silva clarifica, referindo que “somos apenas um mundo, uma única escala, um único sistema”.
No mundo, refere o MNE, “só há duas maneiras de agir, uma é encasularmo-nos, é tentarmos fecharmo-nos sobre nós próprios é tentar fecharmo-nos ao exterior, ao estranho, ao diferente, ao estrangeiro e até hostiliza-lo”, a outra “é justamente abrirmo-nos aos encontros uns com os outros, abrirmo-nos há experiência cosmopolita, à experiência de dialogarmos uns com os outros”.
“A Arte e em particular a Arte contemporânea é também esse meio que nós temos para trocar experiências, para dialogar, para nos encontrarmos em campos e em linguagens que nos são comuns”. Linguagens como a do belo, a da provocação, a que é oferecida à múltipla e diferenciada interpretação de todos, acrescentou o MNE.
“ARCO Lisboa traça esta espécie de quadrado que liga a criação artística ao sistema da arte, enquanto combinação de instituições e de mercados, daí à cidade e daí ao mundo, à internacionalização”, concluiu Augusto Santos Silva.