A investigação em biotecnologia utiliza, em variados casos, mamíferos para ensaios, mas agora uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu um sistema que permite a utilização de aves, através de técnicas experimentais não invasivas, neste caso, por recolha de ovos.
O Sistema de Alojamento Modular de Aves, desenvolvido pelos investigadores, para o qual já submeteram o pedido de registo de patente internacional, “é um equipamento de alojamento de codornizes poedeiras em condições experimentais, personalizado para investigação e desenvolvimento de soluções biomédicas baseadas no potencial biotecnológico dos ovos.”
O sistema para as codornizes respeita as diretivas europeias e obedece ao conceito dos três ‘Rs’ (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), e permite o desenvolvimento de investigação que conduza a novos biofármacos e produtos de diagnóstico biomolecular, nomeadamente vacinas e anticorpos. Recursos base para desenvolvimento de terapias de combate a infeções bacterianas, fúngicas ou virais, alternativas aos antibióticos tradicionais, bem como de métodos inovadores de diagnóstico de doenças.
Os investigadores consideram que, também, pode ser explorada a criação de compostos derivados do ovo e suplementos para soluções farmacêuticas.
Ricardo Vieira-Pires, investigador e coordenador da unidade experimental de Aves do CNC, referiu, citado em comunicado da UC, que Sistema de Alojamento Modular de Aves ”é único em Portugal” e mesmo na Europa. O investigador referiu: “Estamos interessados na capacidade natural das aves em acumular anticorpos na gema dos seus ovos e na sua valorização. A codorniz é a ave de eleição para uma investigação que precisa de customizar e processar os anticorpos de forma versátil, algo que não é tão linear com ovos de outras aves”.
Os investigadores mantêm a mesma abordagem de produzir anticorpos terapêuticos com propriedades neutralizantes, ou seja, é feita “a recolha de anticorpos da classe Imunoglobulina Y (IgY), equivalente à imunoglobulina da classe G humana com propriedades imunológicas de defesa do organismo, incorporados especificamente na gema de ovos.”
Neste caso os investigadores apenas procedem à recolha dos ovos das codornizes e assim deixam de deixam de “colher sangue do animal, como acontece para todos os outros casos que recorrem a ratinhos, coelhos ou cabras”.
Ricardo Vieira-Pires esclareceu: “Uma galinha produz até cinco vezes mais anticorpo que um coelho ao fim de um ano, e apenas se tem que recolher ovos diariamente, ao contrário de recolher 40 a 50 mililitros de sangue a cada 15 dias. O nosso sistema permite a utilização de codorniz em ensaios preliminares que serão num segundo momento reproduzidos em galinha”.
A UC indicou que o projeto foi financiado por fundos FEDER através do Programa Operacional Fatores de Competitividade – COMPETE, por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e pelo QREN – Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013, com o apoio do ‘Mais Centro’ e da União Europeia através do Projeto “CNC Biotech – investigação em Biotecnologia e capacitação do sector empresarial”.