Trombose Associada ao Cancro é negligenciada

Trombose Associada ao Cancro é uma causa de morbilidade e mortalidade que se encontra negligenciada por médicos e doentes. O Grupo de Estudos de Cancro e Trombose apresenta um ‘White Book’ para aumentar a informação e a consciencialização sobre o impacto da doença.

Ambulâncias
Ambulâncias. Foto: Rosa Pinto

Grupo de Estudos de Cancro e Trombose (GESCAT) concluiu que é determinante tomar medidas para reduzir a morbilidade e mortalidade dos doentes com Trombose Associada ao Cancro (CAT, sigla do inglês). Medidas que contribuam para aumentar a sobrevida, a qualidade de vida e reduzir os custos para o sistema de saúde e a sociedade.

A falta de consciencialização e informação relativa ao impacto da trombose nos doentes oncológicos é o principal obstáculo a ultrapassar.

Dados do Eurostat, o Gabinete de Estatísticas da União Europeia, mostram que na União Europeia o cancro constitui a principal causa de morte, uma situação que levou a Comissão Europeia a estabelecer como objetivo a redução da mortalidade associada às doenças oncológicas em 15% até 2020.

O cancro é uma das doenças onde outras condições se relacionam com o tratamento, com a própria doença e com implicações nas atividades da vida diária. Uma das condições mais importantes é a possibilidade do doente vir a desenvolver um coágulo de sangue. Uma condição conhecida como trombose associada ao cancro.

Apesar da CAT constituir uma das principais causas de morte por cancro, após o tratamento contra cancro, e levar a gastos económicos significativos, ou seja, os custos do tratamento dos doentes com trombose e cancro é significativamente superior aos dos restantes doentes oncológicos e a sua qualidade de vida inferior. O que se verifica é que “a prevenção e tratamento adequado são muitas vezes negligenciadas devido à falta de consciencialização sobre a sua gravidade.”

Para Sérgio Barroso, médico oncologista e Presidente do GESCAT, “as questões relacionadas com trombose e cancro são um problema importante em saúde pública, que se prevê tornar ainda mais relevante no futuro, pelo que se impõe uma reflexão sobre a forma de o abordar, em termos clínicos e económicos”, pelo que a mensagem ‘investir para salvar e mais tarde poupar’ “assume particular importância particularmente no contexto atual de pressão sobre os serviços de saúde para redução de custos”.

O GESCAT considera ser “urgente chamar a atenção das entidades responsáveis, profissionais de saúde e sociedade em geral para se conseguir melhorar a prevenção e o diagnóstico precoce e assegurar um tratamento eficaz e seguro da CAT em todos os doentes oncológicos, de forma reduzir a morbilidade e a mortalidade.”

O Presidente do GESCAT esclareceu que “é urgente aumentar a prescrição de tromboprofilaxia nos doentes com cancro. A doença oncológica constitui um fator de risco independente e relevante para o tromboembolismo venoso (TEV), fundamentalmente porque altera o normal equilíbrio do sistema de coagulação do organismo, desviando-o no sentido “pró-coagulante”.

“Sabe-se hoje que o TEV associado ao cancro é cada vez mais prevalente, estimando-se que cerca de 20% de todos os doentes oncológicos terão o diagnóstico de TEV durante a evolução da sua doença” explicou o médico oncologista. O risco é maior durante os primeiros 3 a 6 meses após o diagnóstico de neoplasia. Além disso, a quimioterapia, a radioterapia, a hospitalização e a imobilidade aumentam o risco de um doente desenvolver CAT.

O GESCAT esclareceu, em comunicado, que para esta população de doentes, as guidelines internacionais e nacionais são inequívocas e unânimes ao classificar as HBPM como tratamento de primeira linha, devendo ser administradas em monoterapia entre três a seis meses.

Sérgio Barroso esclareceu que “devido ao elevado risco de recorrência, o tratamento do tromboembolismo venoso no doente com cancro deve ser prolongado ao longo de vários meses e este facto aumenta os custos, afeta de forma adversa a qualidade de vida e aumenta a probabilidade de adiamento e redução da eficácia do tratamento médico dirigido à doença oncológica (como a quimioterapia).”

Para o médico oncologista “a prevenção da trombose associada ao cancro reduz custos com a doença, melhora os resultados e diminui as mortes associadas a esta doença. Os profissionais de saúde responsáveis pelo tratamento do cancro devem proceder à avaliação frequente do risco de TEV específico para cada doente, tipo de tumor e tratamento utilizado.”

Para o Presidente do GESCAT “a trombose associada ao cancro, apesar de constituir uma das principais causas de morbidade e mortalidade dos doentes oncológicos, não recebe a atenção suficiente por parte das entidades responsáveis, profissionais de saúde e sociedade em geral”, pelo que “é necessário aumentar a sensibilização de todos os grupos de interesse relativamente ao impacto do TEV associado ao cancro e à necessidade de disponibilizar um diagnóstico precoce, prevenção adequada e tratamento eficaz aos doentes oncológicos com TEV.”

“Os profissionais de saúde devem estar conscientes para o facto do TEV constituir uma possível complicação do cancro e do seu tratamento” e “os responsáveis políticos devem ser esclarecidos sobre o custo económico e de saúde pública do TEV associado ao cancro e de como a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz da trombose associada a cancro pode salvar vidas e poupar recursos” conclui Sérgio Barroso.

É lançado no dia 21 de novembro, em Lisboa, na Embaixada da Dinamarca o Livro Branco (White Book) sobre a ‘Trombose Associada ao Cancro’. O livro reúne um plano de ação que tem como objetivo aumentar a consciência sobre a situação para reduzir a morbilidade e mortalidade dos doentes oncológicos com esta patologia, através da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado.”