Cientistas do The Scripps Research Institute (TSRI), na Flórida, EUA, mostraram pela primeira vez que um novo composto suprime “efetivamente” a produção do VIH em células infetadas, e evita a recuperação viral, mesmo quando as células infetadas são submetidas a estimulação.
A descoberta abre a porta a uma abordagem completamente diferente para curar infeções por VIH. O estudo liderado pela portuguesa Susana Valente, do TSRI, foi já publicado na revista cientifica ‘Cell Reports’.
Susana Valente, investigadora líder do estudo, referiu: “Nenhum antirretroviral usado em clínica é atualmente capaz de suprimir completamente a produção viral em células infetadas ‘in vivo’”, e acrescentou: “Ao combinar o fármaco com o cocktail standard de antirretrovirais, usado para suprimir a infeção em modelos de ratos com VIH-1 humanizado, o nosso estudo encontrou uma redução drástica no ARN de vírus, o que é realmente a prova de conceito para uma cura funcional”.
A investigadora, que é uma pioneira nesta nova abordagem, chama a isto “Block-and-Lock”, ou seja, a abordagem bloqueia a reativação do vírus nas células, mesmo durante as interrupções do tratamento e bloqueia o VIH num estado de latência duradouro.
A equipa de investigadores usou um derivado de um composto natural chamado didehidro-cortistatina A (dCA), que bloqueia a replicação em células infetadas pelo VIH, inibindo o ativador transcricional viral, chamado ‘Tat’, interrompendo a produção viral, reativando e reabastecendo o reservatório viral latente.
Susana Valente referiu que “a combinação de dCA com terapia antirretroviral acelera a supressão do VIH-1 e previne a recuperação viral após a interrupção do tratamento, mesmo durante uma forte ativação celular”, e acrescentou: “É importante notar que o nosso estudo usa a dose máxima tolerável do fármaco, praticamente sem efeitos colaterais”.
Os cientistas estudaram a terapia de combinação num modelo de rato com VIH latente e persistente. Quando o regime de tratamento combinado foi interrompido, a recuperação viral demorou 19 dias, em comparação com os sete dias que demorou nos ratos modelo que receberam apenas tratamento antirretroviral.
Cari F. Kessing, investigadora e coautora do estudo referiu: “Isso demonstra o potencial das estratégias de Block-and-Lock”, ou seja, o estudo mostra que uma abordagem de cura funcional “pode conseguir reduzir o vírus residual no sangue durante o tratamento antirretroviral e limitar a recuperação viral durante a interrupção do tratamento”.
Christopher Nixon, da Universidade da Carolina do Norte, também coautor do estudo, referiu que “na metade dos ratos tratados com dCA, o vírus não foi detetado ao fim de 16 dias após o tratamento ter sido interrompido”, e Chuan Li, coautor do estudo acrescentou: “Nós bloqueamos o ‘Tat’, e as máquinas da célula fizeram o resto”, e “o resultado foi que o promotor do VIH ficou reprimido”.
Susana Valente esclareceu que os modelos animais foram expostos a apenas um único mês de tratamento, que é “um período relativamente curto de tempo”, mas os investigadores consideram que “tratamentos mais longos resultarão em atrasos de recuperação mais longos, ou mesmo permanentes. A questão é quanto tempo?” Susana Valente acrescentou: “Estamos a estudar isso agora.”
Quando o VIH retorna, ou seja, recupera, essa recuperação viral do HIV vem com uma série de efeitos adversos, indicou a investigadora, pelo que o bloqueio da recuperação do vírus reduziria automaticamente esses efeitos adversos. “Esta é a única classe de drogas que impede as células infetadas de se tornarem abertas aos vírus”, referiu Susana Valente. “Todos os antivirais atuais funcionam mais tarde no ciclo de vida viral, de modo que apenas um inibidor da transcrição do HIV, como o dCA, pode parar os efeitos colaterais da produção de vírus de baixo nível”.